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Lucas Carneiro de Oliveira

Todos falavam demais, gritavam demais, bebiam demais.
Procuravam demonstrar seus estereótipos de um modo forçado, quase que empurrado goela abaixo.
Enquanto nós, sentados um de frente pro outro, apenas nos sentíamos.
Reparávamos no modo como o outro respirava, no piscar frenético dos olhos e até mesmo, no volume escondido pelas roupas.
Você percebia que aquela taça que eu erguia a boca não era propriamente uma taça, e sim você.
Pelo jeito como eu a tocava, como a degustava em minha boca ao mesmo tempo em que olhava no fundo dos seus olhos, ou quando balançava em frente à face para aspirar todo aquele perfume já decantado, como quem cheirasse até o canto mais obscuro do teu corpo.
Na minha mão, naquele momento, era você e não uma taça.
E você sabia bem.
Sabia porque, enquanto sentia o teu cheiro de forma indireta, tombava sutilmente o pescoço, o deixando à mostra, e fechava os olhos.
Podia me sentir no seu corpo, enquanto a sua mão percorria a haste da sua taça subindo e descendo, com calma e confiança, com leveza e intensidade.
A sua perna, mais precisamente a parte interna das suas coxas recostavam se quase que instintivamente, como uma bateria movida a fricção, que fazia percorrer pelo seu corpo todo uma leve descarga de algo tão sufocante e revigorante, que ainda não tem nome.
Mas te fazia querer estar exatamente ali, concentrada.
Talvez para outras pessoas, em meio àquela multidão, fosse difícil não deixar o foco se dispersar.
Mas pra nós isso nunca foi problema.
Pra quem passava, achava que a gente nem se notava, e nós adorávamos isso.
Tínhamos o nosso próprio universo, onde falávamos sem dizer, sabíamos sem precisar demonstrar e nos amávamos através do sentir.