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Keyla Fogaça

Infância, amor, tempo
Impossível fugir a esta dura realidade,
A de te querer.
Lapido me
De forma contundente
Para que não percebas
O que por detrás dos meus olhos Há:
O amor que vem do tempo,
Há tanto tempo
Esculpido na delicadeza
Da inocência
Ainda indecisa,
Que não sabia,
Ao certo,
Como se proteger.
Pequeno grão de areia,
Pés descalços era eu.
Mochila da moda,
No meio da criançada!
Guardava, entre livros
Sonhos e aprendizados.
Na castidade da serenidade,
Desenhava te em sobriedade,
Enquanto o quadro negro,
De giz
Rabiscavas.
E contavas, ensinavas
Ainda que em tom ríspido,
A alma branda
Acenava.
Já não sei se acordada,
Com a sua imagem, estupefata,
Desdobrava me
Ascendendo ao céu;
Sinal de menina ludibriada.
Sim,
Todos os rebentos sonham,
Romantizam o primeiro amor,
Mas não fazem ideia de que crescem,
Transmutam se em pássaros
E aconchegam se em ninhos
Maduros,
Muitas vezes vazios.
À espera do novo sol
Esvaem se.
Espera dolorida
No peito que guarda o passado
Puro,
De seda clara,
Envolvido em lágrima
Partida,
Prateada,
Cristalizada
À lua da mulher amada.
Branca a sua pele
Em textura de Van Gogh,
Que eterniza o ser.
Estúpida sutileza esta,
A de não se saber!
Apego me à lembrança
De um rosto que não é seu,
E na melodia da mais bela
Canção,
''We've only just begun''
(Estamos apenas começando)
Perco me
Em devaneio,
No vestígio de uma ilusão.
Falo mais do que recebo,
Enlaço me na esfera
De quem venera.
A sua boca pertence
A lábios que não são meus.
O seu corpo,
Que almejo
Como guri sedento
Por subir
Às fruteiras do quintal vizinho,
É selado.
O seu ventre
Deu luz,
Fruto bendito!
E por entre espaços
Fez se paz.
Cerro os meus olhos
À tentativa de
Castrar os meus medos.
Amo te, ainda,
No silêncio pungido.
Da infância à maturidade
Amor, tempo
E a triste certeza
De ser predestinado
A querer o que não se pode
Ter.

Aquela vez no Arpoador achei que seria a derradeira primavera.
O amor me transbordou de imediato.
Depois de cantoria no palco, tomei o rumo de casa.
O laço bordado em minh'alma, tornaria se apenas uma lembrança distante.
Até que por obra do destino a música lançou o reencontro.
O meu coração entrou em festa, alegria que se fundia com o silêncio de não poder gritar o sentimento.
Estava lá, de frente para aquela beleza branda que mal ficava no ambiente enquanto eu entoava os acordes na voz.
Fitava, aflita, possibilidades infindas, de não acabar.
Torci para que durassem esses pequenos instantes, mas findarão os dias de canção e os cabelos de raios de sol ficarão guardados na lembrança do verão.
Trago agora o seu perfume sóbrio com notas afrodisíacas, ele me desperta para o lugarejo interior da paz.
Ah! Como é boa essa paz que mesmo quando não abraça a gente, embriaga de desejo.
Contraditória até! Ao mesmo tempo que é sã, transforma se em desatino de paixão que desintegra a lucidez.
Apaixonar se é, de fato, perder o prumo
Acho então que seja amar a palavra certa, que traz a resiliência.
Quem não acredita em amor à primeira vista com tudo o que tem direito A vida seguirá.
Esperarei, depois da despedida, um novo canto, um novo reencontro, uma carona na chuva, ou quem sabe um entardecer ao lado seu, ou mais um breve momento, um chá de hibiscos no próximo florescer.
Talvez, por ser do signo de terra, nem acredite que isso seja sobre você.