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Ivone Boechat

Ruth Teles de Menezes – primeira diretora do Grupo Escolar Joaquim Leitão educadora pioneira em Santo Aleixo
1934 1953
Ruth Telles de Menezes nasceu em São Fidelis RJ, no dia 30 de maio de 1913, filha de Arnaldo Telles de Menezes e Edwirges Telles de Menezes.
Quando seus pais se casaram, sua mãe, a noiva, não havia completado ainda quinze anos; formaram uma família muito grande, com treze filhos.
Em 1934 a professora Rute Telles mudou se de São Fidélis RJ para Santo Aleixo, tão logo concluído o Curso Normal formação de professor na Escola Normal do Liceu de Humanidade de Campos RJ.
Ela fez o concurso público estadual de professores, foi aprovada e contratada para trabalhar em Santo Aleixo na Escola Estadual Isolada que deu origem ao Grupo Escolar Joaquim Leitão.
No ano seguinte, em 1935, já instalada numa casa cedida pela Fábrica de Tecidos Esther, conseguiu levar todas as irmãs e a mãe para morarem na pequenina cidade.
Os irmãos ficaram em São Fidelis.
Antigamente, quem ostentasse o título de professor, tinha status.
Em 1934, em Santo Aleixo, a única professora formada, com certificado do Curso Normal (ensino médio) era Ruth Telles de Menezes, diretora da Escola Estadual Isolada era assim que se chamava com duas turmas, ainda sem nome.
Os desfiles escolares, a disciplina impecável da Escola, o nível de aprendizagem e educação, a elegância da diretora Ruth, tanto no trato com os pais, alunos e autoridades, fizeram da Escola que dirigia, com imensa dedicação, uma referência no Município de Magé.
A professora Ruth Telles já estava lutando há algum tempo e conseguiu que a Fábrica construísse mais três salas de aula, ampliando se o número de vagas na Escola do Estado, uma exigência da lei de Diretrizes e Bases da Educação para uma Escola Isolada se tornar Grupo Escolar: no mínimo 05 salas de aulas.
Dona Ruth trabalhou com excelência e conseguiu junto à Secretaria de Educação do governo Amaral Peixoto para que o processo de um grupo escolar, já autorizado a funcionar em Niterói, fosse transferido para Santo Aleixo.
Quem era Joaquim Leitão, o vulto histórico que foi homenageado pelo governador do Estado do Rio, dando seu nome à Escola Estadual de Santo Aleixo
Joaquim Leitão foi médico, escritor e tradutor.
Nasceu no Porto Portugal em 26 de Abril de 1875.
Casou com D.
Amélia de Abreu de Lima Tavares Cardoso Leitão.
Morreu em 1956
Sócio correspondente da Academia Brasileira de Letras – 4º ocupante, de 1941 a 1956, quando faleceu.
Escreveu o livro: Do civismo e da arte no Brasil
Joaquim Leitão colaborou como jornalista no Jornal de Notícias e Correio da Manhã, assim como em revistas portuguesas e brasileiras.
Escrevia mensalmente para a Atlântida: mensário artístico literário e social para Portugal e Brasil.
O processo da autorização de funcionamento do niteroiense Grupo Escolar Joaquim Leitão foi, então, transferido para Santo Aleixo, por força do Decreto Lei 1657, de 31 de julho de 1943, e incorporou se a ele a Escola Isolada já existente.
Por competência, dedicação, mérito próprio, Ruth Telles permaneceu, como diretora do Grupo Escolar Joaquim Leitão, por dezenove anos: de 1934 a 1953.
Em 1954, quando o governo do Estado do Rio construiu e entregou a nova e grandiosa sede do Joaquim Leitão, em novo endereço, foi uma grande festa, mas a professora Ruth mudou se para o Rio.
Em vão os moradores de Santo Aleixo fizeram muitos abaixo assinados, com milhares de assinaturas, pedindo para ela continuar.
Ela foi descansar.
Ruth Telles morreu, aos sessenta e um anos, no dia 25 de junho de 1974, no Rio de Janeiro.
Foi uma grande educadora em Santo Aleixo.
Ivone Boechat (ex aluna, ex professora do Grupo Escolar Joaquim Leitão

Os gritos do Natal!
“Há um rumor por toda parte: Jesus nasceu”!
Os sinos estão ressoando no interior das capelas da vida!
É preciso afinar as cordas do instrumento auditivo para se escutar os gritos.
Nos hospitais não há vaga e nem hospitais, em muitos e muitos lugares! O grito do abandono está adormecendo os “herodes” da era atual, agora travestidos e preocupados em comemorar o Natal! Nas ruas, o grito desesperançado na porta das instituições enfeitadas de sinos e bolas fluorescentes, ofuscando a visão das políticas “sociais”!
Crianças, jovens, adultos e idosos desassistidos de carinho, da presença, do afeto, modulam a voz em uníssono para cantar com a boca cheia de esperança: tudo é paz!
Ouça o grito solitário do internauta conectado nas redes, falando sozinho, “acompanhado” da multidão carente do aconchego humano e muito mais! Contabilize milhares de presidiários da caverna artificial, escravizados pelo plim plim de pacotes encomendados para aquecer a venda de absolutamente tudo o que interessa, de alimentos que matam aos vendavais!
Faça um pouco de silêncio e ouça o grito de milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos que estão fora da escola no Brasil.
Ouça mais, o grito daqueles que estão dentro da Escola, com agenda e compromissos na geladeira de uma pedagogia sem pelo menos o espaço dos recreios, dos quintais!
Ouça o grito de mais de meio milhão de presos nas cadeias do Brasil, doentes, com fome e sede.
Há um déficit de 66% de vagas e os presídios se transformaram num depósito de lixo humano.
É a 4ª.
população carcerária do mundo que se estampa nas manchetes num atentado aos direitos humanos.
Como eles vão desejar Feliz Natal
Que tal escutar o grito do adolescente e do jovem surdo pelo som metaleiro, imposto como última moda atual nas festas e desencontros religiosos ou não Talvez estes nem percebam ou até rejeitem os sons tão suaves do Natal.
Tocam os sinos da solidariedade, os acordes da esperança começaram a vibrar!
O aroma da promessa de Deus está exalando no caminho dos homens de boa vontade, o amor pediu licença pra chegar.
Estende sua mão, alcance os aflitos, veja quantos sofrem com súplicas no olhar, dobra os joelhos, tempo de fé, não esqueça de se levantar para atender os gritos.

Natal, sempre Natal
Ivone Boechat
Você está começando a sentir um cheiro de saudade no ar No imaginário da geração mais antiga, o cipreste começou a exalar o perfume de muitas recordações.
Outrora, nas casas e igrejas, as árvores eram plantadas numa lata de banha de 20 quilos, cheia de terra.
As mães, tias e avós faziam os enfeites: saquinhos de bala, bonequinhos, estrelas de pano colorido e a iluminação pisca pisca que não podia faltar! A árvore conseguia sobreviver até o Dia de Reis, 6 de janeiro, festa popular.
Tudo mudou pra melhor! As árvores são verdadeiras obras de arte! Lindas, variadas, de todos os preços.
A maioria das crianças não ganhava presentes como hoje, não! Algumas conseguiam ganhar roupa e sapatos novos.
Uma coisa deixou saudade: a alegria.
Havia alegria! Por que à medida que os recursos financeiros abastecem a sociedade e quando se pode comprar tudo sofisticado, automático e barato, ao alcance de muito mais pessoas, a alegria vai ficando pra segundo plano.
Precisa se de pais e mães afetuosos! Precisa se de educadores que gostem de educar! Há urgência! É importante educar para aprender a valorizar a vida, as coisas pequenas, mas grandiosas, as conquistas, a luta! As pessoas vão entulhando a casa de enfeites de Natal, presentes, comidas, passam por cima dos clamores e necessidades individuais do grupo familiar, tropeçam na dor e na angústia dos que nem sabem mais chorar e saem lá na frente, erguendo a bandeira do Ano Novo!
O Natal é, sim, uma data importante no calendário.
Ela pontua e sublinha um espaço para as pessoas se abraçarem, conversarem, se alegrarem, se amarem.
Esse regozijo contagia as gerações! Não precisa ter muito dinheiro Imagina uma família que tem todo bem material, mas indiferente, uma Escola com Internet e computadores pra todo lado, sem comunicação, ou então uma Igreja toda moderna e morna
Foi para ensinar uma lição eterna aos moradores do Planeta Terra que o Rei do Universo chegou, silenciosamente, e se instalou com a família numa hospedaria diferenciada, mas muito, muito feliz! Sem ar condicionado, porque a brisa do amor deu lhes o conforto necessário.
Sem camas confortáveis, porque o verdadeiro conforto que o homem precisa para dormir bem é o conforto espiritual de uma consciência reta.
Sem um farto café da manhã, porque o que alimenta mesmo o homem é a fé, o “pão da vida”.
Não havia garçons, a família foi assistida por anjos!
O Natal é uma excelente oportunidade para a reflexão! Não é só para servir um banquete regado à raiva, rancores, remorso, self service de tristezas e mágoas.
Ou fazer uma festa de amigo oculto no meio de inimigos declarados! Não! É um espaço para servir se à vontade a sobremesa do prazer da comunhão, do perdão, da paz, do propósito de recomeço.
Não precisa de presentes, é preciso, sim, acabar com a teimosia dos ausentes.
(Educação a força mágica)

Confissões de um menor abandonado
Eu sei que sou culpado, não tive a capacidade de assumir a administração da minha vida, não fui capaz de controlar as emoções infantis nem consegui equilibrar me sobre os obstáculos que herdei da sociedade.
Até que me esforcei! Olhei para a vida de meus pais, porém, os desentendimentos do casamento falido nublaram os tais exemplos de que ouvi falar, só falar.
Não tive o privilégio de me aquecer no meu próprio lar, porque lhe faltou a chama do amor, sustentando nos unidos.
Cada qual saiu para o seu lado.
Na confusão da vida me perdi.
Candidatei me à escola.
Juntei a identidade civil ao retrato desbotado, botei a melhor farda de guerreiro, entrei na fila.
Humilhado por tantas exigências, implorando prazos, descontos e vaga, me sentei num banco escolar, jurei persistência, encarei o desafio.
Joãozinho, você não sabe sentar se
Joãozinho, seu material está incompleto.
Joãozinho, seu trabalho de pesquisa está horrível.
Joãozinho, seu uniforme está ridículo.
A barra foi pesando, fui sendo passado pra trás e vendo que escola é coisa de rico.
Um dia, me arrependi, mas a professora se escandalizou das faltas (nem eram tantas! ) e disse que meu nome já estava riscado, há muito tempo.
O que fazer Dei marcha à ré ali e, olhando a turma, com vergonha, fui saindo.
Moro nas marquises, debaixo da ponte, nas calçadas e não moro em lugar nenhum.
Tenho avós, pais, irmãos e primos, mas não tenho família.
Tenho idade de criança e desilusões de adulto.
Minha aparência assusta as pessoas e nada posso fazer.
A cada dia que passa, estou mais sujo, mais anêmico, mais fraco.
Sou um rosto perdido, perambulando, em solo brasileiro.
Na verdade, nos chamam de menores, todavia, somos os maiores desgraçados.
Vendo balas num sinal de trânsito que muda de cor a cada minuto.
Quando o sinal fica vermelho, os carros param, meu coração dispara.
Para nós, menores abandonados, o vermelho do sinaleiro é a cor da esperança.
Extraído do meu livro Escola Comunitária 4ª.ed