Frases.Tube

Ivone Boechat

Isto é Natal
Muito cuidado com aquele amontoado de gente suada de tanto correr para procurar um presente, o mais barato possível, com aparência de caríssimo, para berrar o nome do amigo oculto no meio de inimigos declarados! Muito cuidado!
Muito cuidado com essa neurose de casa enfeitada, cheia de estrelas e penduricalhos, tudo piscando, tudo com brilho, para receber pessoas abandonadas e carentes, que vieram se abrigar no “refúgio” anual dos parentes para amenizar as dores da saudade, da ingratidão.
Muito cuidado!
Muito cuidado com o jantar cuspido e dos pratos trazidos de cada convidado.
Coma somente o necessário para fingir que jantou, porque o peso dos molhos e dos musses podem lhe fazer muito mal nessa altura do dia! Muito cuidado.
Muito cuidado com aqueles parentes para os quais você não pode contar as vitórias retumbantes do ano velho: reduza o brilho das suas conquistas, bote tudo no diminutivo, não conte a menor “vantagem”, é a sua luta, o seu stress pra conseguir as coisas, eles acham que você está contando vantagem.
Chega também nessa festa reclamando de alguma coisa, nem que seja da sua velhice.
Vão adorar a festa!!! Muito cuidado.
Muito cuidado ao falar dos filhos também.
Claro, vão perguntar por aquele que lhe dá trabalho, pelo desempregado, pelo folgado, pelo falido, ao invés de elogiar os outros que dispararam na direção do sucesso Muito cuidado.
Muito cuidado ao chegar de carro, o seu novinho, lindo.
Estacione lá longe, e finja que chegou de carroça, de charrete, de ônibus, de van, sei lá; seja criativo.
Muito cuidado.
Muito cuidado com você também.
Não vá chegar com uma bolsa Vitton, com roupa de marca, com maquiagem importada, não.
Lave a cara, chegue de olheiras, seja discreto.
Cirurgia plástica Não conte! Converse sobre a Bolsa de Xangai, sobre o preço do combustível, sobre a pacificação dos morros, sobre a previsão do tempo.
Muito cuidado.
Afinal de contas, tem muita gente pensando que é assim que se comemora o Natal.
Quando o aniversariante é convidado para a festa, nada disto acontece.
O encontro começa e termina com uma oração.
Existe harmonia, boa vontade, carinho, ninguém está preocupado com disputa, concorrência, aparência.
Pense nisto, afinal!
FELIZ NATAL

Monólogo de Natal
Ivone Boechat
A noite estava muito bonita.
Como de costume, Sara ficou olhando para o céu e resolveu conversar com uma estrela:
Você que mora aí em cima, estrela, conta pra mim o que viu de mais bonito aqui na terra
É o mar, nosso espelho e há noites em que ele está tão deslumbrante, que nós, estrelas, ficamos tontas e caímos.
A lua acende todas as velas, ilumina as ondas no seu doce vaivém.
É emocionante vê lo se espreguiçando na areia, esperando o pisca pisca da estrela dalva, a madrinha.
Você que observa tudo poderia dizer qual foi a noite mais linda de toda a história
Claro, nós fomos convidadas.
Naquela noite, o céu estava em festa.
Tudo aconteceu como previram os profetas.
Fomos alertadas para expor todo o nosso brilho, em constelações, ninguém poderia nem piscar, porque algo extraordinário ia acontecer.
Ficamos aguardando os sinais, A rainha das estrelas se colocou esplêndida no firmamento.
Um coro de anjos chegou cantando.
Anjos, muitos anjos sob as nuvens.
Os pastores de Belém extasiados, se curvaram, em oração.
Os animaizinhos se encolheram na estrebaria, dando espaço à Maria e José; nós estrelas e galáxias, ali brilhando, brilhando O luar estava lindo.
Ouvimos quando anjo Gabriel chegou numa apoteose celestial, nunca vista.
Sara notou que a estrela estava fluorescente, emocionada e feliz!
Por que você está assim tão diferente, estrela, parece que você chorou
E a estrela concluiu:
A noite em que nasceu Jesus Cristo, foi o dia mais bonito do Universo.
A paz tão prometida chegou! É por isto que ficamos de prontidão aqui, observando para avaliar o que fazem os homens na terra na linda noite de Natal! Esperamos que pelo menos orem agradecendo e se abracem.
(Escola, doce escola 1ª.edição Unigranrio 1983 RJ)

O amor ensina o perdão
Conta se que, numa cidadezinha do interior, uma pobre mãe viúva encontrou sobre a mesa um bilhete do seu filho que dizia: "Mãe, não agüento mais viver com você, vou tentar a minha vida em Londres".
Moravam num barraco perto da estação de trem e o jovem fugiu.
Sendo filho único, o choque causado pela decepção e a certeza de uma grande solidão e saudade destruíram aquela família.
Os anos passaram e para tristeza de todos que conheciam o rapaz, as manchetes de jornais que chegavam da capital, traziam notícias de assaltos e até crimes de morte que ele cometera.
Aquela mãe não sabia de nada, porque seus amigos escondiam as notícias.
Um dia, chegou uma carta do filho com o seguinte conteúdo: "Mamãe, cansei de tanto sofrer pela saudade e pelos erros que fui acumulando.
Estou arrependido.
Se a senhora me perdoar, coloque uma bandeira branca na sua janela.
Passarei de trem por aí, na madrugada.
Se a bandeira estiver lá, descerei".
Aquela mãe saiu batendo, de porta em porta, nas casas vizinhas e pediu às pessoas para colocarem uma bandeira branca, nas suas janelas.
Quando o rapaz passou por lá e viu tantas bandeiras, desceu chorando.
Muitas vezes, os erros são cometidos por falta de orientação e por inexperiência.
A compreensão e o apoio nas fraquezas podem levar o indivíduo à recuperação.
Um dia, os discípulos de Jesus perguntaram lhe, quantas vezes uma pessoa deve perdoar a outra quando falhasse.
E a resposta sugeriu uma aula sobre o perdão:
Deveis perdoar uns aos outros não sete vezes, mas setenta vezes sete.
Talvez, porque muitos educadores retiraram as lições do perdão da cartilha da convivência, a humanidade se embrutece nas relações.

MÃE SEJA UMA TV A CABO DO BEM!
É muito triste, sim, assistir pelos meios de comunicação, em tempo real, um episódio como esse que jornais do mundo inteiro estamparam, quando um jovem, com sério transtorno de comportamento entrou, intempestivamente, escola adentro e matou crianças em sala de aula.
É dolorida essa aula! É uma aula salpicada de sangue, banhada em lágrimas.
Naquele mesmo dia, repórteres perguntavam aos alunos sobreviventes, aos professores em estado de choque, aos pais horrorizados, que lições podia se extrair dali.
Todos diziam em uníssono: ficamos mais unidos, estamos solidários, nossa dor é uma só.
Isso faz lembrar quando o furacão Wilma arrasou uma cidade americana e os repórteres faziam perguntas semelhantes.
A resposta de uma senhora ficou gravada.
“Com o furacão, tive o prazer de conhecer minha vizinha de muitos anos, quando ela me viu aflita e me ofereceu uma xícara de café”.
O brasileiro é solidário sempre, mas a exemplo de muitos, vem adotando um estilo de vida preocupante, ultimamente.
Está se isolando.
Será que é preciso um furacão, um terremoto, um tufão, uma chacina para as pessoas se unirem, se conhecerem, se amarem E oferecerem uma xícara de café ao vizinho desconhecido
Muitas atitudes contribuem para a educação equivocada.
O mau uso dos meios de comunicação tem sido um terror no universo humano.
É um dragão que destrói o equilíbrio emocional.
A criança chega a algumas escolas ainda bebê, muitos chegam de fraldas e dão de cara com uma escola atropelando os princípios que fundamentam as emoções.
A escola tem o som, todavia, não respeita o limite da capacidade auditiva humana; o som é altíssimo.
A escola tem computadores e os supervaloriza, em detrimento das brincadeiras, das músicas brasileiras, das histórias, das poesias, de dramatizações, do folclore, dos jogos no recreio.
Recreio Cadê o recreio
O Brasil é uma potência em alguns aspectos, mas tem contrastes sociais de submundo.
A educação envergonha essa nação perante os olhos do mundo.
Não se têm recursos para acabar com a violência, porém, pode se educar para reduzir o gosto por ela.
Há canais de tv que estão se transformando em delegacia de polícia, ao vivo, dentro da casa daqueles que veneram a violência.
Isto adoece o imaginário e traz transtornos de comportamento.
Serve também de universidade do crime.
Forma bandidos.
Faz escola.
Andrew Oitke, professor da Universidade de Harvard, publicou o livro Mental Obsety, e denuncia que “A nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que de proteínas”.
E afirma que “É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais sérios do que a barriga proeminente.
‘Profissionais da informação’ vendem gordura trans em excesso”.
Oitke demonstra preocupação com essa ‘alimentação intelectual’ tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção.
“É possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular.
O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa, sobretudo, de uma dieta mental”.
Mãe, lute para reduzir a comunicação da desgraça dentro da sua casa.
Seja uma tv a cabo do bem e não reproduza desgraça nenhuma, hora nenhuma: na hora das refeições, nas festas da família, nos encontros do shopping Não superdimensione o crime, a hecatombe, o tsuname, não se transforme numa assombração a serviço da mídia pererê, ensinando que o mundo está no fim.
Não pegue um caso isolado e o generalize.
Nunca se viu nada igual a essa matança na escola, aqui no Brasil.
Não fique então martelando que as escolas agora não têm segurança, que o mundo está perdido.
Esse fato é único.
Não deixe seu filho, seu neto, ninguém aterrorizado, achando que isso é sempre assim, uma coisa normal, mas, sobretudo, eduque para que se aprenda a usar a metainformação, selecionando tudo de lindo e maravilhoso que existe nessa Terra linda.
O mal não vencerá o bem.
Então faça a sua parte!
Seja, você, uma tv a cabo do bem.