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Guilherme Pintto

Amor abusado
É engraçado quando estamos carentes que qualquer movimento diferente nos parece o amor chegando.
É o cara que te oferece ajuda na academia, o motorista gentil que faz sinal para tu passares na faixa de segurança, a moça com o sorriso simpático no caixa do supermercado Tudo é motivo para pensarmos que ali vai se dar início a uma nova história.
Mas, será mesmo Será que vai acontecer naquele momento Será que o cara da academia vai te chamar para trocar uma ideia depois do treino Ou o motorista vai te seguir e pedir teu número com o telefone dele na mão Ou então a moça do caixa vai escrever um “me liga” na nota fiscal, tendo o seu número logo abaixo Infelizmente, não! O amor não é assim.
O amor é abusado.
Ele entra com a casa bagunçada, de pijama, quando tem gente.
Sem percebermos, ele se instala.
Ele chega em meio a confusão, a euforia, a perda, a conquista.
Mas, o que é amor Quem é esse que tanto falam Qual é desta insatisfação que torna tudo insatisfatório quando não o temos Será que é tão importante amarmos e sermos amados Eu percebi que sim, na minha quinta série.
Quando tive uma professora amarga e diziam que era mal amada.
Não tinha ninguém para compartilhar seus problemas, suas conquistas e muito menos as alegrias.
Acabava que, no final do dia, era apenas ela e mais ninguém.
Nada a motivava pelo que eu podia perceber.
Foi se isolando tanto do mundo que, hoje, vive em um sítio com uns oito gatos e vai à cidade apenas para fazer compras, quando necessário.
Eu tenho medo da solidão e, diga se de passagem, que desde muito tempo já venho planejando meu “plano B”, caso eu não encontre este “tal amor”.
Todo mundo anseia por isso, nem que seja bem lá no fundo.
O desejo é unânime: querer cuidar e ser cuidado.
Deixemos, então, a porta entreaberta para ele entrar.
O amor acontece quando a gente menos espera.
Quando pensamos: “este aí nunca vai ser o amor da minha vida! ” E é.
Dizem que ele chega para os mais distraídos, para aqueles que estão ocupados vivendo a vida com gosto, para pessoas com menos planos na agenda.
Ele vem quando quer, e não quando queremos.

O tempo não cura tudo
Alô
Oi! Quem é
Sou eu.
Não precisa dizer nada, só me escuta.
Tudo bem Como têm sido teus anos longe de mim Cheguei hoje de viagem e pensei em te ligar.
Sei lá, puxar um papo, te resumir minha vida nesses oito anos.
Eu sei que a gente não se falou nesse tempo, e que eu, tampouco, respondi as tuas mensagens.
É que andei tão ocupado que mal tive tempo de pedalar como antigamente.
Na verdade, eu precisava de um tempo.
Queria estar longe e não estender mais o nosso vínculo.
Tu sabes que eu nunca fui muito bom com despedidas, e acredito que eu ainda devo me profissionalizar em “adeus”.
Tu lembras daquela faculdade na qual eu queria passar tanto Então, depois de três anos tentando, eu entrei.
Foi a maior festa lá em casa.
Minha mãe pensou em te ligar, mas não tínhamos mais o teu número.
Ou melhor, foi o que eu disse pra ela.
Até hoje a coroa insiste em dizer que tu és o melhor parceiro de festa que ela teve, e especialista em queimar todo o churrasco.
Tenho tanta coisa para te contar que, se eu demorar muito, meu bônus acaba e só poderei te ligar amanhã.
Tu sabes: “A vida tá difícil.” Meu bordão ainda é o mesmo.
Afinal, sou graduando e não formado.
Vais precisar ter um pouco de paciência caso escutes um “tututu” ao invés da minha voz.
Há uns dois meses eu ganhei uma viagem com acompanhante para Bali, acredita Para Bali, cara! Sim! Eu fui sorteado na agência que o Pedro trabalha.
Na verdade, eu não sei se realmente foi sorte ou a desculpa dele maquiada para irmos juntos.
Ah sim, nem te falei: estou namorando.
O conheci naquele posto que a gente sempre comprava o teu cigarro que eu tanto odiava.
Até que, do ódio, surgiu um amor.
O guri é meio louco, mas é tri gente boa.
Dirige um fusca, têm umas tatuagens mucho locas pelo corpo e um cabelo bagunçado que eu adoro.
Ele sabe como me tratar bem.
É doutor em me arrancar gargalhadas e faz questão de me mandar toda manhã alguma citação do Gabito Nunes.
Pelo estilo do cara, não deveria se empenhar pela metade, mas, segundo ele, o amor é sujeito à mudança.
Além dos seus defeitos já acostumados, quase morre a cada texto que eu publico.
Ele acha que será uma carta de término, exatamente como eu fiz contigo aquela vez.
Lembra
Minha amiga me ligou na segunda, falou que tu vais te casar.
É verdade Só pode, né ! Teu rosto está estampado na coluna social que ela fez questão de digitalizar e mandar por e mail.
Por um lado eu fico feliz.
O nosso plano de nos esquecermos deu certo.
Mal e porcamente, mas deu.
Eu também estou feliz.
Mês que vem estou indo tirar umas férias na África.
O Pedro tem fissuras por lá e o meu coração ainda bate quando vejo aquelas crianças com olhares que refletem a vida.
Ainda vou morrer com a vontade de querer abraçar o mundo e resolver a vida dos necessitados.
Esse tempo longe fez eu entender que o amor não discerne distâncias, não conta as horas e que a saudade não vem a óbito com as substituições.
Ou melhor, o tempo não cura tudo, só tira o incurável do centro das atenções.
Existem saudades que passam a ser nossas amigas.
Como uma filha, uma vez gerada, só podemos deixá la de lado quando outra pessoa assumir e der um jeito de tratá la.
Antes de embarcar no aeroporto, uma senhora com roupas e acessórios de cigana pediu para ler minha mão.
Interpretando minhas linhas turvas, graduada nas leis da vida, me encarou com dois olhos negros acompanhados de uma voz suave: “A memória conserva a felicidade dos momentos compartilhados e a mente faz o trabalho de lembrar o porquê não estendê la.
Não existe receita para a felicidade, não há fórmulas para o amor, não existirão remédios para a saudade.
O coração tem memória, passe a respeitá la! Não o subjugue, pois ele sabe muito bem a diferença entre lembrar e amar.
Quem um dia amou, leva a saudade antiga no bolso para poder viver em paz com a novidade de um novo amor.”
Tututu