A PEDRA QUE FALA
Pedra,
incógnita da vida,
ainda gravita
no espaço,
bem erigida,
nos regurgita
do ventre o pedaço
de almas perdidas.
Pedra,
de sons guturais,
uiva e vocifera,
devora e aniquila
os seres animais;
e nesta litosfera
de ódios, destila
na Harpia, seus ais.
Géia mater,
Pangeia de loucos,
fusão Cambriana,
na esfera do Orco
elege o triturador,
e na sua telúrica
epopeia tectônica,
afronta o Criador.
Gaia, a mãe Terra,
filha do Caos,
berço de corpos
em livre queda
no tártaro glacial,
bem absorvida
à força leonina,
ruge e dilacera.
Petra,
óxido de ferro,
urânio e íons,
fissão nuclear,
o grande berro
na Galáxia,
dois megatons
de anjos e vírus.
Pedra,
que fala e grita,
explode e mata,
entorpece
e crucifica,
edifica a alma,
abre sua boca
e nos alucina.
Pedra vocal,
esturricada
nas penedias,
pouso de abutres,
garganta abissal,
estratificada
nas luzidias
sombras ilustres.
Eco de assombros
fantasmagóricos,
uivam nos beirais
de pedras delirantes,
seus escombros
são alegóricos
covis de chacais,
horríveis e dementes.
Do seu livro: "Poemética Ambulante"