CATARATAS DO IGUAÇU
(O MIRANTE DE DEUS)
Ao eclodir do dilúculo nas cataratas do Iguaçu
uma névoa sutil flutua das quedas, lentamente;
no céu anil volitam andorinhões e alegremente
refluem o véu de espumas nas encostas do ipu.
O rosicler espelha sua coroa implexa às águas,
fachos de sol arrojam sobre o relval orvalhado,
aves ribeirinhas e muriquis à orla do banhado
espraiam se ao fulgor do astro rei sem tréguas.
A vida flui, reluz nas flores, cores e paisagens,
o arco íris verga no horizonte, pássaros ao léu
rejubilam louvores à natureza, eflúvios do céu.
A invídia, então, objurga Tupã açu às imagens:
Ó Pai! Criaste tal visão aos muriquis e aviários
folgarem ao sol, à sombra virgem da estiagem,
enquanto as cachoeiras se lançam na voragem
da correnteza sem fim na jusante dos cenários
O Possante reprime a invídia por sua impostura:
“eis que tal natureza traz vida e singelo encanto
à terra ressequida; seria um selvagem espanto
o pélago não tragar todo seu fluxo nesta altura;
no lugar das águas estariam rudes penhascos
a padecer de sede; muriquis e aves ribeirinhas
não nidificariam à orla dos rios e das prainhas;
tudo estaria ermo: basaltos sem relva e riachos;
mas para deleite do homem e muita criatura,
gerei esse manto de catadupas como a grinalda
sobre o diamante; e desde o penedo até a fralda
cobre as madeixas da sua noiva, véu de alvura;
será sempre viva, radiosa, de águas cristalinas;
reluzirá a sua auréola para o mundo contemplar
sua vasta cabeleira, e, do mágico arrojo no altar,
despontarão suas cortinas, tropicais turmalinas! ”.
Do zênite, o astro rei fulgura cálido nas quedas,
o venturoso rio estruge e se arroja na paisagem,
a vazante eclipsa com espumas à sua passagem
e jorra em cores as águas do chafariz de pedras.
No mirante celeste o arrebol formoseia Iguaçu,
no céu prateado, andorinhões adejam o cenário
flertando as cataratas sobre o véu do santuário
sagrado, vigiado pelo olhar ígneo de Tupã açu.
Do seu livro: "Poemética Ambulante" 2013