Fernando Pessoa

Era uma princesa
Que amou Já não sei
Como estou esquecido!
Canta me ao ouvido
E adormecerei
Que é feito de tudo
Que fiz eu de mim
Deixa me dormir,
Dormir a sorrir
E seja isto o fim.

Nunca sabemos quando somos sinceros.
Talvez nunca o sejamos.
E mesmo que sejamos sinceros hoje, amanhã podemos sê lo por coisa contrária.

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Não sou da altura que me vêem, mas sim da altura que meus olhos podem ver.

"Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros cada um sente
O que julga, e é um erro imenso."

Sou definitivamente contra o definido, porque o definido é o bastante e o bastante não basta

Tudo quanto penso
Tudo quanto sou
É um deserto imenso
Onde nem eu estou

Sou o que penso, mas penso ser tantas coisas.

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.

A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro
Sou presa do meu suporte.

Sei que nunca terei o que procuro
E que nem sei buscar o que desejo,
Mas busco, insciente, no silêncio escuro
E pasmo do que sei que não almejo.

O que penso eu do mundo
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Penso em ti e dentro de mim estou completa.
( ) Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

E não sei o que sinto, não sei o que quero sentir, não sei o que penso nem o que sou.
Verifico que, tantas vezes alegre, tantas vezes contente, estou sempre triste.

Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno me eles e não eu.