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Elizabeth Ruth Auer

Biscoitos vagabundos.
É o que temos pra hoje.
Biscoitos vagabundos mastigados sem vontade.
E cobertores desbotados.
Meia dúzia deles.
É o que temos.
Mentira!
Temos dúzias de compromissos.
Trabalhos, estudo, promessas.
Temos também convites.
E temos vontades.
Além disso tudo, temos um sentimento de culpa.
Culpa por não gostar da bolacha.
Bolacha que muitos no mundo não tem.
Culpa por não estar estudando.
Culpa por não ter aceitado convites.
Culpa por estar descansando no domingo.
Dia de descanso não é pra não fazer nada.
Culpa, por estar dormindo o sono que fugiu ontem.
Culpa por não ter ajeitado o cabelo.
Culpa por não estar apresentável.
Culpa por não estar de joelhos.
Domingo é dia de ir a igreja.
Temos além de toda culpa, um sentimento de dor.
Dói os joelhos, e travam os artelhos.
Dói os dedos, e palpita o seio.
Dói os ombros, e dói a raiz dos cabelos.
Dói saber que a dor é cronica.
Cronica deveria ser a minha harmonia com a rotina.
Vontade de viver é o que temos pra hoje.
Mas só vontade.
Quem convive com impossíveis, sobrevive da honestidade.
Vontade de comer é o que temos pra hoje.
Mas só vontade.
A bolacha é horrível.
E eu tão ingrata, sou ainda mais.
Necessidade de estudar é o que temos pra hoje.
Mas só necessidade.
A memória é ruim, a concentração trava.
Necessidade de socializar é o que temos pra hoje.
Mas só necessidade.
A dor cansa; a canseira da sono; o sono tem vontade própria.
Biscoitos vagabundos; cobertores desbotados; uma porção de compromissos; um cansaço enorme; convites rejeitados; dor generalizada; uma multidão de sonhos,ansiedade; e uma insônia cobrada.
É o que temos pra hoje.
Mas são só necessidades.
A urgência da nossa alma, é abrir o coração honestamente; assumir nossas culpas; e confiar em milagres.