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Demétrio Sena Magé RJ.

SENTIMENTO MÁGICO
Demétrio Sena, Magé RJ.
Ele nunca foi exatamente apaixonado por ela.
Pelo menos no que tange o contexto comum das paixões seculares e massificadas pela sociedade, não.
Também nunca teve o desejo comum de possui la.
Consumar o que chamam de fazer amor ou até classificam de formas chulas que se confundem com gastronomia.
O que sempre o ligou a ela foi ou é uma espécie de amizade encantada.
Um sentimento inusitado, especial e profundo que não o deixava tomar distância.
Impelia seus passos ao encontro da musa, mesmo que fosse apenas para saber como estava, olhar seu rosto e trocar algumas palavras e silêncios.
Beber nas águas da magia fora do alcance de seu entendimento.
Como foi dito, ele nunca teve o desejo comum de possui la no entanto, havia nele um desejo incomum de de senti la não sabia como.
Queria ser íntimo, sem segredos e cuidados.
Alguém que não precisasse ocultar quase nada, nem a nudez de corpo e alma, e nem por isso transformasse a relação em simples caso amoroso.
Durante alguns anos, aquele homem foi levemente correspondido.
Silenciosa e sutilmente; delicada e displicentemente correspondido, como devia ser.
Sem trato nem proposta.
Só a resposta natural, desnecessária na voz.
De contexto sem texto.
Sem discurso de qualquer natureza previsível.
Os olhos da musa mudaram, com o tempo.
Assumiram ares e sombras; trejeitos e jeitos com o peso comum ao mundo normal.
Aos meios engessados por severidades forjadas.
Imagens impostas.
Formalidades, liturgias e definições que proíbem o ser humano a si mesmo e o engaiolam na própria estampa.
Tudo foi um delírio, que ele julgou emocionalmente sustentável.
Não foi.
De sua parte, sim.
Dela, não.
Mesmo assim, ele decidiu manter a esperança de um dia saber quem é para ela quem ela é para si mesma.
Talvez até reassumir o sonho e retomar o delírio de um laço tão fora de órbita e razão apenas mágico.

Não há bicho doméstico mais frio do que o gato.
Frio e interesseiro.
Ele não se apega exatamente ao dono.
Gosta mesmo é da comida e do sofá.
Do conforto proporcionado por quem o cria e pode a qualquer momento ser arranhado ou levar uma bela mordida, caso o contrarie, por exemplo, com afagos em demasia.
Ninguém se iluda com as esfregações do gato entre suas panturrilhas nem com outra possível manifestação de afeto.
Gato é prostituto.
Vende se pelas mordomias e vantagens ao seu alcance, na casa que o acolhe.
No entanto, não hesita em trocar de casa e dono, sem qualquer nostalgia, se outra casa lhe abrir as portas e oferecer mais fartura e conforto material.
Em no máximo três dias, o ex dono de um bichano pode se tornar completamente estranho para ele, mesmo depois de uma vasta convivência.
É triste, mas nesse aspecto, a espécie mais parecida com o gato é o ser humano.
Pessoas adoram quem lhes dê vantagens; rodeiam sempre os que podem lhes proporcionar acessos, ascensões, indicações, status, lucros.
Tratam com menos deferência, respeito e carinho aqueles que nada podem oferecer de vantajoso.
De alguma forma leiloam seus afetos e preferências e constantemente renegam a quem deixa de ser interessante, quer seja como patrão, empregado, bajulador, mecenas e tudo o mais que represente ganhos.
Não importa que tipos de ganhos.
Podemos concluir dessa particularidade, que o rico também bajula o pobre, quando o ato significa a chance de utilizá lo para se dar bem.
Numa coisa o ser humano é pior do que o gato: ao passo que o bichano apenas busca o melhor para si, gente quer muito mais Quer o pior para os outros, a eliminação da concorrência, e vai muito além da esfregação entre as panturrilhas: dá rasteiras; derruba o próximo em beneficio próprio.
Que o digam, de forma especial, os políticos partidários com os quais lidamos mas olhe: não são apenas eles.

AOS QUE APEDREJAM EM NOME DE DEUS
Demétrio Sena, Magé RJ.
No passado, quando a igreja católica instaurou a inquisição, ela não o fez por ser a igreja católica, e sim, por estar no poder, ser absoluta e composta por seres humanos.
O ser humano é assim: faz do poder que tem em mãos uma arma de opressão ao próximo, visando a manutenção da própria supremacia e o domínio de seus conceitos, pensamentos, ideias e filosofias.
Quem comunga é amigo; aliado; parceiro; irmão.
Quem não o faz, é inimigo; representa o perigo iminente; tem que ser extirpado e virar exemplo para que mais ninguém discorde.
Qualquer denominação religiosa que tivesse o mesmo poder político e o domínio absoluto, naqueles tempos de ignorância também absoluta ou quase, faria igual.
Dominaria pelo medo, a força, o castigo, a tortura e a morte.
E para justificar as atrocidades, faria tudo em nome de Deus e com a fantasia do combate ao diabo.
Às forças do mal.
Com tais artifícios a igreja, católica ou não, sempre teve nações ao seu lado; multidões enfurecidas dispostas a tudo para defender a santidade ostensiva e truculenta de suas greis.
Hoje, pelo menos no Brasil, vemos a tentativa do retorno à inquisição, pelos evangélicos fanáticos.
E quem são os evangélicos fanáticos Não há como classificar por denominação, pois são muitas as denominações evangélicas, e corremos o risco de ser injustos, mas pode se dizer que se trata de um grupo cada vez maior.
Que avança vertiginosamente.
Nesse passo, existe o risco de tal grupo crescer tanto, a ponto de alcançar a supremacia, o poder absoluto, via trâmites políticos.
Afinal, sabemos que a política vai onde a multidão está.
O poder público, para sua manutenção, sempre se deixará dobrar pelos que representam mais votos; mais poder.
E os religiosos que visam a supremacia dispensam escrúpulos, esquecem a ética e não medem atos nem esforços para conseguirem dominar e a cada dia,esses grupos têm mais líderes e fiéis enfiados nos palácios dos poderes, com o único fim de se fortalecerem corporativamente.
Apedrejar umbandistas nas ruas já é inquisição.
Tanto quanto ofender, segregar, fazer piadas, prejudicar e quando os líderes religiosos martelam incessantemente nos templos, que os umbandistas são do diabo; que as testemunhas de Jeová, os budistas, espíritas e outros mais também são do diabo, incitam a intolerância; o ódio; a ignorância que gera tudo contra o que toda religião deveria pregar.
E pregaria, se fizesse o certo.
Se não distorcesse os ensinamentos originais.
Aonde andam os seres humanos de boa vontade Sem eles, cadê a paz que deveria estar na terra Quem ensinou a jogar pedra no próximo Cristo Buda Kardec Maomé Deus Quem Religiões ou seitas (para mim não há diferença, senão pelo preconceito) deveriam ensinar amor, compreensão, respeito às diferenças e ao arbítrio, que é livre; não pode ser forçado por pedras, xingamentos, intimidação.
Não me sinto em um país com liberdade de culto.
De religião.
Muito menos com liberdade para não ter religião, como é meu caso.
Às vezes, de alguma forma, também me sinto apedrejado por muitos religiosos; entre os quais, alguns amigos e familiares.
Tomara que nunca seja também, de fato, apedrejado, e torço para que as pessoas hoje apedrejadas por causa de suas crenças ou orientações de fé deixem de sê lo.
Vejam quanta ironia: um não religioso pedindo paz aos religiosos.
Um "perdido" pedindo aos "salvos" que amem o próximo.
Um homem "sem Deus no coração" pregando a união, o bem viver e a comunhão humana, esperançoso de que os "ungidos" se conscientizem dessa necessidade.
Precisava dizer tudo isto.
Que me perdoem os que se julgam ou são de fato melhores do que eu e se não for possível, que alguém me atire a última pedra só assim não restará mais nenhuma para ser atirada, inclusive, nesse alguém.