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Demétrio Sena Magé RJ.

Não há bicho doméstico mais frio do que o gato.
Frio e interesseiro.
Ele não se apega exatamente ao dono.
Gosta mesmo é da comida e do sofá.
Do conforto proporcionado por quem o cria e pode a qualquer momento ser arranhado ou levar uma bela mordida, caso o contrarie, por exemplo, com afagos em demasia.
Ninguém se iluda com as esfregações do gato entre suas panturrilhas nem com outra possível manifestação de afeto.
Gato é prostituto.
Vende se pelas mordomias e vantagens ao seu alcance, na casa que o acolhe.
No entanto, não hesita em trocar de casa e dono, sem qualquer nostalgia, se outra casa lhe abrir as portas e oferecer mais fartura e conforto material.
Em no máximo três dias, o ex dono de um bichano pode se tornar completamente estranho para ele, mesmo depois de uma vasta convivência.
É triste, mas nesse aspecto, a espécie mais parecida com o gato é o ser humano.
Pessoas adoram quem lhes dê vantagens; rodeiam sempre os que podem lhes proporcionar acessos, ascensões, indicações, status, lucros.
Tratam com menos deferência, respeito e carinho aqueles que nada podem oferecer de vantajoso.
De alguma forma leiloam seus afetos e preferências e constantemente renegam a quem deixa de ser interessante, quer seja como patrão, empregado, bajulador, mecenas e tudo o mais que represente ganhos.
Não importa que tipos de ganhos.
Podemos concluir dessa particularidade, que o rico também bajula o pobre, quando o ato significa a chance de utilizá lo para se dar bem.
Numa coisa o ser humano é pior do que o gato: ao passo que o bichano apenas busca o melhor para si, gente quer muito mais Quer o pior para os outros, a eliminação da concorrência, e vai muito além da esfregação entre as panturrilhas: dá rasteiras; derruba o próximo em beneficio próprio.
Que o digam, de forma especial, os políticos partidários com os quais lidamos mas olhe: não são apenas eles.

AO PROFESSOR QUE NASCEU PARA SER PROFESSOR
Agradeço todos os dias ao destino, pela graça de ser educador.
Arte educador.
Inserir me nesse contexto como profissão me fez mais do que um profissional: alguém que se reconhece como quem nasceu para isso.
Tenho, evidentemente, minhas angústias relacionadas a proventos, condições ideais de trabalho e as grandes dificuldades externas que acompanham nossos alunos até os espaços formais de aulas, oficinas e projetos educativos, tanto no conceito pedagógico, especificamente, quanto nos conceitos da arte e da cidadania.
Sou um professor que não dá nota.
Que pode mudar, todos os dias, as estratégias para vender suas ideias e seduzir os alunos.
Atraí los para contextos mais prazerosos do que a obrigação de alcançar notas e pontos para passar de ano.
Às vezes, adulá los.
Talvez por isso, eu não tenha nem condições de alcançar a grandeza dos esforços diários dos professores em disciplinas obrigatórias, que têm a dura missão de preparar pessoas para o mercado de trabalho.
Para disputas mercadológicas e a sobrevivência em uma sociedade competitiva e cruel, devido à falta de espaço confortável para conquistas.
Não tenho a mínima condição de avaliar precisamente a realidade total das salas de aula, mas sempre que vejo um professor de pelo menos alguns anos de profissão, admiro o profundamente por ter atravessado esses anos, diante do que vejo.
São muitos e muitos os professores que portam condições plenas de abraçar profissões muito mais rentáveis, e o fariam competentemente, mas não fogem do que escolheram, porque seriam somente profissionais.
E como nasceram para ser professores, não seriam felizes se não fossem profissionais e seres humanos, como tem que ser, mais do que ninguém, quem nasceu para ser professor.
Reitero, portanto, meu profundo respeito e minha admiração aos que trabalham com amor e sofrimento; com revolta e dedicação; com sorrisos muitas vezes salobros, porque se misturam ao pranto, mas logo se sobressaem, porque o amor ao que fazem tem sempre reserva de otimismo.
Ao mesmo tempo, meu desprezo profundo e a não admiração aos patrões da educação tanto particular quanto pública e aos cidadãos de má vontade responsáveis pelo sofrimento, a revolta e as lágrimas do professor que nasceu para ser professor.