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Daniel Bovolento

Depois da sessão coruja sempre bate saudades de você que não veio ainda.
De você que podia ter recostado a cabeça no meu ombro durante o filme.
De você que teria chorado porque eles se acertaram e deram certo depois do não tão felizes assim para sempre.
De você que ocupa um banco vazio do meu lado.
Só que eles sempre acendem as luzes pra gente ir embora – e eu acho que você acaba indo mesmo.
Porque eu sempre vou sozinho pra casa em altas horas da noite.
Mas todo filme trabalha com a gente para além da sua duração.
E eu já me adianto nas flores e será que você vai gostar da gravata que eu coloquei Você é meu amor imaginado.
Sonhado pra aparecer um dia desses no meio das nossas loucuras.
Com todos os nossos problemas e com aquela coisa que faça com que a gente se apaixone pelos olhos um do outro.
Com calma pra eu não tropeçar e cair pra dentro de você.
Me afogar.
Me afundar.
E não querer mais sair dali, mesmo que perdido.
Você é o meu amor de roteiro romântico.
Do tipo que perdoa as minhas maluquices e não pergunta o que eu conversei com meu terapeuta hoje.
Do tipo que se magoa porque eu falei muito sobre a minha ex, me dá uns dois socos no ombro direito e vai dormir com o telefone desligado.
Do tipo que eu reconheceria assim que tivesse a oportunidade de conduzir uma dança e pisar nos seus pés.
Pra fazer a gente cair no meio de todo mundo.
E pra você começar a rir desesperadamente e transformar o constrangimento em alegria.

Apaixone se por um homem que vai chegar do nada ou que vai ser melhor amigo daquele mala do trabalho que insiste em te chamar pro Happy Hour com a galera da RH, ou nem ligue tanto assim de onde ele vem, se tá num cavalo branco ou se pegou o 432 em direção ao Maracanã.
Apaixone se por um cara que vai andar na Lapa feito bamba e vai te chamar pra jogar video game na social do apê dele na Tijuca num sábado de tardinha.
Apaixone se pela simplicidade do convite, pela falta de tato romântico de quem convida por querer te conhecer melhor e não ter medo de expor os fortes e os fracos – como a alergia de gatos e os quadros com frases de cinema na parede do quarto.
Apaixone se por um homem que te mostra a casa como se fosse o coração dele.
Apaixone se pela maneira com que ele olha pra você feito o Brad Pitt olhando pra Angelina.
E acredite nele – porque ele sabe mais do que as revistas de beleza e que o seu espelho – que você é verdadeiramente bonita.
Apaixone se pela mania dele de levantar da cadeira nos momentos tensos do filme, derrubando toda a pipoca no chão e pedindo desculpas.
Você vai acabar descobrindo as esquisitices dele e as coisas todas que deveriam ter sido jogadas pra baixo do tapete feito poeira, mas pra ele não importa, não importa que você veja esse lado porque ele não tem medo.
Apaixone se por um cara que não tenha medo de te dizer não quando discordar de você.
Por um cara que vai negar alguns caprichos, ligar pra ter DR e que vai ser tão preguiçoso quanto você na hora de levantar da cama na manhã pós sexo.
Apaixone se pelo cara que vai rolar com você pela cama, pelo chão ou pela vida enquanto acha a coisa mais gostosa do mundo ter você ali.

Olha pra mim e diz que chegou.
Eu já ando cansado de bater de porta em porta, sempre tentando, sempre com um sorrisão na cara e um buquê de flores ou um vinho desconhecido pra brindar por solidões individuais que ainda não se destacaram na multidão.
Percebe em mim alguma coisa mágica, um olhar no metrô, a forma como eu viro uma página de livro, os sapatos engraxados com afinco doentio e todos esses pequenos detalhes ganchos que eu espero que você pesque.
Cuida de mim e diz que eu posso descansar a cabeça no seu colo durante a viagem de ônibus, ou conta comigo pra pousar a mão na sua coxa e assobiar feito passarinho a música do rádio num carro.
Cuida e me olha de novo pra me enxergar.
Já passou tanta gente que me olhou uma, duas, muitas vezes que eu já nem conto mais.
E toda essa gente me atravessou o peito como se nunca tivesse me enxergado direito, entende Por isso que eu me sinto feliz ao primeiro sinal de que você vai me enxergar e dizer que reparou numa pinta escondida por trás da barba e por trás da casca pra me chamar de teu.
Repousa em mim e se esboça aos poucos.
Escorrega comigo pelos braços, pelos pelos e pelas pernas e vai se desenhando aos poucos, em torno de mim enquanto me rabisca com giz de cera.
Dá tempo de apagar alguma listra que a gente não gostar e rabiscar, rabiscando a gente se entende e manifesta aquele desejo infantil de se fazer entender de forma prática.
Me desenha um sol e me chama de meu bem É que ninguém nunca me chamou assim e eu sinto um carinho grande, desses de abraço de urso, quando alguém chama alguém assim – só que nunca fui eu.