Promessa falida
Hoje veio me dizer tudo o que eu precisei enquanto já dormia: me disse que irá passar muitas vezes em minha casa pra me ver ou me levar, sem aviso ou pedir permissão, pois sabia que mesmo que não estivesse eu voltaria e que problema nenhum teria.
Disse que restabelecerá aquela disposição contagiante que eu tinha quando nos conhecemos, tirando das minhas memórias tudo o que a suprimiu e que me fez um cara de rotinas superficiais e com medo de minhas próprias idéias.
Disse que não vai mais se importar com surpresas e que, diferente de todos hoje, não as encara como desrespeito ou invasão de privacidade.
Disse que quer viver em comunidade, vai me apresentar aos seus amigos e faz questão de se apresentar aos meus também.
Que vamos voltar a fazer planos tão maiores que nossos compromissos pequenos, pra eu nunca mais voltar a omitir meus desejos tentando proteger um rotulo que não se sustentaria sem tê los feitos.
Que vamos fazer uma poupança para viajar pra muito longe, conhecer gente bacana, comer o que só ouvi falar, montar uma barraca e acampar.
Me disse que não preciso me preocupar com a liberdade, com o modo que vou me comportar diante todas essas novidades, que é agora adiante é pra deixar rolar.
Me disse tudo isso, no banco de trás de um carro, guiado pelo pai que eu conhecia pela primeira vez por um retrovisor, os olhos sorrindo, tão parecidos com os dela.
Eu emburrado, não queria acreditar, mas ela dizia tão rapidamente, sem gaguejar e olhava para a janela do carro e me instigava pra ouvir contente.
Eu olhava e estava tão diferente.
Era presente, porque o tempo venci antes de morrer: não deixe o tempo vencer, ele não tem data de vencimento.
Mas acordei.
E não ouvi mais ninguém.
Lembrei que o amor não espera que você esteja preparado e que simplesmente entra sem bater Aqui ele entrou, mas a porta ainda está aberta e ele, tão menino quanto nós, pode correr pra fora a qualquer hora, gritando.