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Caffèmia, Blasfêmia

Essa noite encontrei a saudade e o mar na pasta de
um notebook antigo.
Por segundos tive medo
Pensei: "eu não devo fazer isso";
O problema é que sempre faço o que não deveria.
Já se tornou uma característica.
Então, cliquei na pasta.
A sensação era de colocar a ponta do pé num navio,
um navio que eu conhecia, mas já não me lembrava.
E fui
Senti o vento bater no rosto,
como da primeira vez;
A paisagem, os pássaros,
o barulho do mar na madeira seca;
Repousei meus olhos sobre nossas fotos,
todas as fotos que eu fiz questão de nunca mais ver.
Degustei a saudade numa pequena dose,
ainda era doce.
Encontrei nossas músicas Algumas eu nem lembrava
da existência, outras eu cantarolava às vezes,
outras ainda, me fizeram aumentar o volume,
colocar os dois fones, me amarraram no navio;
As cordas eram fortes, machucavam minha pele,
assim como as lembranças.
Nesse momento eu já estava em alto mar,
tarde demais pra pensar em voltar.
Bebi mais uma dose de saudade, uma dose grande,
amarga e fria, bati o copo na mesa e pedi outra
Enfim, cheguei aos textos, os diários, as confissões,
ninguém tira da minha cabeça a ideia de que voltei no
tempo, senti como se estivesse lá ainda.
Doeu.
O navio balançava agressivamente,
a tempestade começou.
A tempestade voltou.
Aquela mesma tempestade,
da cor dos seus olhos castanhos.
A última dose eu não pude beber.
Já estava vomitando.
Não sei se por beber tanta saudade com o
estômago vazio, ou pelo balanço do navio.
Nada mais me restava.
Por fora, eu ainda estava na minha cama,
com um notebook velho sobre meu colo,
Por dentro, eu naufraguei em você de novo.

21° ato, take 4
Das conjecturas, e os desafios,
e o jeito com que a vida insiste em trombar nossas vidas todas as vezes que penso que não há mais nada.
A sensação incômoda de
"já protagonizei esse filme", que é igual, porém, pior do que "já assisti esse filme", quando a historia está pausada num ponto em que eu ainda tenho chance de mudar o final,
mas sem saber o que fazer.
Talvez um dia ela entenda.
"Eu preciso viver", ela disse.
Nada que já não estivesse no roteiro e eu soubesse de cor.
Respirei fundo, engoli seco, foi um soco no estômago ouvir ela repetir a fala que mais me doía.
Apesar de tentar disfarçar, ela percebeu e perguntou o porquê, e só pude responder silêncio.
Ela interpreta tão bem sem conhecer o filme, não consegui interromper.
E eu, que prego a liberdade como religião, não posso, em momento algum, impedir alguém de viver.
Por mais que eu saiba que esse "viver" vai levar ela para longe, para um fim sem volta.
Enquanto tudo que eu queria era ter coragem ou razão pra pedir à ela que se abrigasse no meu canto mais clichê.
Deixasse essa tendência de ir embora e seguir roteiros na estante por uns minutos, ou horas, dias..
Mas não sou um espectador qualquer, tenho que ter responsabilidade nos meus atos, pensar muito bem antes de impedir alguém de ter um dia melhor do que o que eu poderia oferecer.
É minha vez de te proteger de mim.
Já estava na hora de fazer algo útil.
"Talvez eu seja pequena, lhe cause tanto problema, que já não lhe cabe me cuidar."

 Eu tenho seus espelhos em casa.
E o vidro é uma fotografia.
Eu tenho suas chuvas esparramadas pelo meu quarto, tenho meu céu repleto de vazio, tenho sua memória estraçalhada no meu mural como aquelas borboletas com cabeça de alfinete.
Não saia de casa esta noite.
Tenho algum carnaval dançando em mim.
Parem com a música, senhores, hoje é vida de cinzas.
O resto é uma brincadeira de inventos.
Vamos fugir pra dentro de qualquer um dos teus delírios e, pelo amor, vamos ser felizes.
Vamos ser felizes por amor.
Esconda suas artes caras e vamos sujar as mãos com o sangue do outro.
Esconda a droga do seu bom senso e voe até sua morte sair pela boca.
Meus alfinetes são temporários e a minha magia negra é inconsciente.
O meu problema é falta do que fazer.
E é o tempo que sai fugido de mim.
Horas, amores e decepções são desastres naturais imprevisíveis.
Vou abusar da tua coragem e da mão de obra barata.
Vou abusar da tua falta de tecnologia, do teu atraso e da tua África.
Vou povoar você.
Vou salvar você.
E esse corpo desnutrido não são ossos, são ócios.
Ócios da tortura de me pertencer, mas não reclame.
Não reclame jamais, porque te amo, porque te guardo.
Não se lamente, por maior que seja a minha culpa.
Não decore o meu interior com a tua mania de adeus.
Eu não me despeço nem dos meus lixos.
Sua saliva é um véu que me sufoca, e minha existência se resume em ser um talibã radical.
Eu existo e o mundo é meu.
O mundo é meu.
Qualquer dia desses vou assar a tua alma e encerrar a fome mundial.
Vou ganhar um prêmio nobel da paz, agradecer e dizer que todo mundo comeu da minha dor, que todo mundo bebeu do teu sacrifício involuntário.
E todos vão me aplaudir porque todo mundo engasga com o próprio silêncio, e o silêncio é de morte.