O fenómeno mais herético é o amor.
Ele não é bem recebido nem tolerado porque é uma força sem desistência e que não se revoga a si mesma.
Animais eles são a medida da nossa paz com o mundo criado; eles são um dado de consolação porque não mudam para como quem tanto muda como nós, humanos.
O amor dos animais contém muito da desaprovação pelos seres humanos e é próprio dum melindroso estado de revolta que não encontrou a sua linguagem.
A arte não pode ser política, nem sujeição social, nem glosa duma ideia que faz época; nem mesmo pode estar de qualquer forma aliada ao conceito «progresso».
É algo mais.
É o próprio alento humano para lá da morte de todas as quimeras, da fadiga de todas as perguntas sem solução.
Dizem mal de tudo com uma insinceridade genial.
Os Portugueses são a gente mais insincera que há.
Por isso são raramente grandes artistas.
O trabalho não é uma vocação, é uma inspiração.
Para manter essa inspiração é preciso um espaço de criação, não só para o artista profissional como para o indivíduo em geral.
Os maiores revolucionários foram conservadores em coisas de arte, e os maiores artistas foram quietistas em assuntos políticos.
Entende se por isto que no revolucionário há uma nostalgia do consumado, e no artista há um cepticismo da realização.
A melhor impressão que a poesia nos pode dar é esta: ficar de coração vagabundo, deixando a vareja estalar na janela as asas grossas, e não dar por isso, como um cão surdo.
As guerras não surgem por motivos económicos ou passionais.
É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior.
Demasiada lucidez é culpada num mundo de cegos, que com a cegueira se contemplam sem desastre de maior.