GRACINHA
Eu sou aquela caixa d'água a tilintar dentro da noite veloz.
Lá fora, o sereno caía vadio enquanto os rumores dos carros mexiam com as luzes dos postes.
Tchiqui, tchiqui, tchiqui Quase sempre, o ventilador ao pé da cama.
A cama.
A cama.
Aquela cama Na área, o churrasco embalava os nossos estômagos famintos.
A fumaça passeava por todo espaço.
Chegava na cama.
A cama.
Aquela cama Ao meu lado direito, meu mano: pequeno, raquítico, olhos negros, cabelos lisos.
No centro, a mana: covinhas amontoadas, coqueirinhos na cabeça, chorinho fácil a descolar na boca.
Ao lado esquerdo: vovó.
Vovó.
GRACINHA.
Corpo roliço, cabelo despreparado, pele macia e branca.
Sua mão a "irribuçar" os netinhos com colcha vermelha.
Sua mão a cantarolar no meu peito.
Um dois três carneirinhos.
O ronco, o sereno a cair, os rumos dos carros e eu caixa d'água, eu saudade, eu vontade de voltar.