Estou, oficialmente, pedindo arrego.
Tô precisando ver no relógio o fim do expediente.
E ficar alheio, indisponível, ausente.
Tô precisando do barulho do zíper fechando a mala.
E de sala de embarque, conexão, escala.
Tô precisando do peso da pálpebra fechando o olho.
E ficar de boa, de cama, de molho.
Tô precisando de cheiro de filtro solar.
E ir pro sol, pro frio, pro bar.
Tô precisando do som das tardes vazias.
E olhar pro céu, pras noites, pros dias.
Tô precisando ouvir música ruim.
E de brigadeiro, tapioca, quindim.
Tô precisando baixar a frequência.
E me permitir deslizes, indisciplinas, imprudências.
Tô precisando abraçar gente amada.
E de exagero no churrasco, na cerveja, na feijoada.
Tô precisando de outros cenários.
E mudar de roupa, de eixo, de itinerário.
Tô precisando de alguma calma.
E lavar o carro, o rosto, a alma.
Tô precisando (logo) do fim do mês.
E me desligar de tudo, de novo, de vez.
Tô precisando da noite de 24.
E encher a taça, o saco do primo, o centro do prato.
Tô precisando da noite de 31.
E atentar para meu melhor compromisso: nenhum.