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Mayara Freire

Depois de tantas alegrias, tristezas, decepções e surpresas, comecei a prestar mais atenção nos meus pedaços, partes marcadas por cada um que passou na minha vida.
Sou viciada em olhar aquela caixinha rosa cheia de fotos, recentes e muito antigas, umas quando eu ainda nem era nascida.
Gosto de lembrar daqueles momentos, o porquê daquela risada, a idade que eu completava aquele dia, o motivo daquele passeio, a formatura, a passagem de ano.
Aquelas que eram tão especiais pra mim, que se perderam entre minhas memórias.
Aquelas que eu roubei do quadro da sala de estar dele, da carteira dele.
Comecei a lembrar dos choros sem razão, das pessoas que ainda estão em meu coração por alguma razão, por algum detalhe.
Lembrei dos muitos atos por impulsão, das tantas vezes que fugi e voltei no minuto seguinte.
Senti saudades dos muitos lugares que conheci e não pude, não tive tempo; saudades também dos momentos que vivi e das coisas que esqueci.
Lembrei das noites mal dormidas, das horas sagradas de sono que perdi sonhando acordada, escrevendo, tocando teclado Ri de mim mesmo quando me lembrei das vezes que desisti sem ao menos ter tentado, e das vezes que eu tentei e quebrei a cara.
Chorei das vezes que tentei, insisti e consegui o que eu queria.
Vendo as fotos, aquelas pessoas perdidas lá atrás, senti pelas amizades que não cultivei, por aqueles que eu julguei, pelas coisas que eu falei.
Lembrei das pessoas que conheci, dos amigos que deixei, das lembranças que esqueci.
Lembrei dos momentos engraçados de distração, da minha mania de derrubar tudo, de só conseguir me equilibrar no salto depois de tropeçar, das vezes que comia chocolate até passar mal.

E pensar que eu sempre falei sobre essas amizades falsas que ferem a alma melhor seria se ferissem o corpo.
Eu sempre pensei e continuo que a verdadeira amizade é aquela que nos permite falar de defeitos, qualidades e o que mais vier a cabeça.
Porque amizade de verdade é aquela que você fala o que vem a cabeça, e não se arrepende de nada dito podem passar meses, anos.
Não existe maneira mais bonito que justificar uma amizade defendendo um amigo.
Isso pra mim é nobre.
Mais nobre ainda é termos um amigo de valor.
Nunca acreditei em alguém que não se deleita na felicidade de um amigo, a amizade não está nesse relacionamento.
Esse negócio de fingir, tentar impressionar, ser outra pessoa não tá com nada, sabe Gente que é gente gosta de ser do jeito que é.
Triste mesmo é ver uma amizade evaporar em meio a decepção.
Aí resta aquela boa esperança que, se tudo vivido foi verdade, a amizade reaproxima.
Mas não acredito muito nisso.
Pessoas feridas costumam mudar.
Eu, por exemplo, não mudo só as roupas, o cabelo e o esmalte.
Eu mudo a cidade, o telefone e a caderneta de anotações.
É cansativo viver de memórias prefiro deixar as memórias pra lá, pra haver mais espaços pra coisas novas.
Eu gosto de novidade e isso não significa que agora estou sociável.
Também gosto da verdade.
Antes uma dor sincera, que uma alegria falsa.
E nada mais me irrita que saber que a alegria que tive foi falsa.
Acho que é por isso que acabo sendo tão radical.
Melhor assim.
Amizade, acima de tudo, é certeza.
E quando você duvida, já não é mais amizade.
Eu acredito que o sentimento fica pela pessoa que te decepcionou, mas, como disse o Pr.
João Chinelato hoje pela manhã "Amores e pessoas complicadas fazem mal a saúde.
Ainda que precisamos amar a todos, faça um teste, quando você se afasta de pessoas complicadas até sua saúde melhora", então é melhor se afastar.
A gente se afasta e a amizade esfria, congela e vira memória.
Por que, como já dizia Immanuel Kant "a amizade é semelhante a um bom café, uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor".
É melhor virar memória, poupar conversas desgastantes e dor.
Sem dor, sem lágrimas.