Que todos os homens são iguais é uma proposição à qual, em tempos normais, nenhum ser humano sensato deu, alguma vez, o seu assentimento.
Um homem que tem de se submeter a uma operação perigosa não age sob a presunção de que tão bom é um médico como outro qualquer.
Os editores não imprimem todas as obras que lhes chegam às mãos.
E quando são precisos funcionários públicos, até os governos mais democráticos fazem uma selecção cuidadosa entre os seus súbditos teoricamente iguais.
Em tempos normais, portanto, estamos perfeitamente certos de que os Homens não são iguais.
Mas quando, num país democrático, pensamos ou agimos politicamente, não estamos menos certos de que os Homens são iguais.
Ou, pelo menos o que na prática vem ser a mesma coisa procedemos como se estivéssemos certos da igualdade dos Homens.
Identicamente, o piedoso fidalgo medieval que, na igreja acreditava em perdoar aos inimigos e oferecer a outra face, estava pronto, logo que mergia novamente à luz do dia, a desembainhar a sua espada à mínima provocação.
A mente humana tem uma capacidade quase infinita para ser inconsistente.