O livro mais triste que conheço sobre o amor se chama O legado de Eszter, do húngaro Sándor Márai.
Quando o li, tive a sensação de que minha vida, como a da personagem, seria destruída pela esperança de um romance irrecuperável.
Eszter espera pela visita do grande amor do passado, que a salvará de uma existência de solidão e vergonha.
Eu esperava pelo retorno de uma mulher que nunca voltou.
Lembro o livro, o período e a dor como partes de um mesmo corpo.
A prosa límpida e hipnótica de Márai ligava a vida da mulher no início do século XX à minha, que se desenrolava às vésperas do século XXI.
As personagens e as palavras dele deram àquele momento as cores de uma profunda melancolia, mas a tingiram, ao mesmo tempo, de uma estranha lucidez.
Lembro me de pensar, de forma um pouco dramática, que afundava de olhos abertos.