BOULEVARD CAFÉ
Chove torrencialmente.
Na rua transeuntes dispersam se.
O tempo mudou de humor, esbraveja trovoada.
Chora, lava as ruas.
O destempero temporal, chuva brava, silencia.
Mulher desce a ladeira, devagar para não cair.
Leva nas costas o peso das preocupações impostas pela vida, ao encontro do Boulevard Café, pausa rotineira.
Molhada, no balcão faz seu pedido, na inquietude saborosa do desejo de degustar um mentolado café.
Engole como se fosse o último, prazer destilado aos poucos.
Degusta também, algumas aflições inevitáveis, entre um e outro gole.
Olhares sutis despertam a cumplicidade.
Homens de paladar apurado saboreiam a admiração.
Entre os olhares, insinuante aceno.
Um breve olhar ensaia a resposta do adeus.
No Boulevard Café, o mesmo pedido, a mesma medida, os mesmos olhares e um salutar café.
Na rua a chuva silenciara.
A mulher retoma seu trajeto, com o fardo mais leve, deixando as preocupações a mercê do destino.
O sol aparece tímido, alguns pássaros cantarolam, ensaiando um fim de tarde poético, de mornas inquietudes na passarela cotidiana da vida.