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Laisa Bertassoli

"E ela andava triste, melancólica, se escondendo pelos cantos da casa, pelas sombras, mas hoje, isso mudou.
Ela estava sorrindo.
Sabe quanto tempo não vejo ela tão feliz
Hoje eu cheguei, cansada e estressada, ela estava na cozinha, de pijama listrado e com os cabelos amarrados de uma forma estranha.
Estranhamente linda, como se os prendesse as pressas, sem muito jeito, mas os prendeu.
Eu dei boa noite por entre os dentes e ela se virou para mim, confesso que foram os cinco segundos mais longos da minha vida.
Aqueles enormes olhos claros me fitaram com tanta ternura e amor, que foi impossível ficar indiferente.
A felicidade reside ali, chegou nela e fez sua morada, lá é a sua casa e desconfio que a felicidade nasceu com ela, quase irmãs siamesas.
Ela não disse nada, mas nem foi preciso.
Seus olhos e sorriso farto me disseram tudo.
Ela é assim, quando triste, não dá para disfarçar, mas quando está feliz é um farol brilhante que guia os barcos cansados para um seguro cais.
Durante o jantar ela falou das risadas altas na lanchonete, de como o tempo passa devagar quando está ao seu lado, quase em câmera lenta.
Ela é boa nisso É como se nos transportasse para aquele cenário, deu até para sentir os aromas que pairavam no ambiente, seu perfume dançava no ar.
Ela contou rindo de como gosta de se ver refletida nos seus olhos profundos.
Disse que isso é puro suicídio, pois não consegue voltar quando mergulha em você.
Ela fica ainda mais menina quando te vê, fica meio dengosa, fala fininho e baixinho.
Confesso que a um tempo atrás sentiria um nojo de ver tal cena, mas agora já estou ficando viciada nisso.
Gosto dos seus trejeitos, dos gestos exagerados, como revira os olhos com impaciência a espera do amor que já é correspondido.
Gosto da forma que ela anda, como se dançasse sem tocar os pés no chão.
Como ela faz suas tarefas sem esforço pois esta feliz.
Ahhh, quem dera eu um dia encontrar um amor assim!
E ela ri.
Ri deliciosamente e eu sorvo cada gota de sua felicidade como se fosse algo tão vital quanto o ar dos meus pulmões.
E a sua alegria é contagiante, pega igual gripe e me enche de uma febre que nunca desejo ser curada.
Eu a quero assim para sempre, vestida de felicidade, com esse sorriso enorme nos lábios, esse brilho resplandecente nos olhos e seu coraçãozinho que ama, ama, ama, afinal, para o grande baile da vida, não há veste que lhe caia tão bem."

Para todos que se separaram
A separação é algo muito triste, quando dizemos que a sua dor se compara ao luto não exageramos.
Ela não separa só o casal, os filhos, a família em si, mas parte o indivíduo em muitos pedaços e passamos a sentir as dores dessa divisão física, psicológica e espiritual.
Separar é desistir de coisas, de planos, de sonhos.
É abrir mão daquilo que lutamos por tantos anos para conseguir, é descobrir que os nossos alicerces estavam fundamentados em algo artificial, quase inexistentes.
Na verdade as coisas não são bem assim, mas o olhar de quem se separa é assim.
O ex nos soa tão estranho, ele já não é mais aquela pessoa que dormia ao nosso lado ou é e só percebemos agora com a distância.
Somos violentados todos os dias pela pessoa que deveria nos amar mais que tudo, nós mesmos.
Nos cobramos todos os momentos coisas absurdas, sorria mais, seja mais cortez, seja gentil e delicada, quando o nosso desejo sincero é matar ou morrer.
Tudo dói, acordar dói, olhar para os filhos dói, pensar no ex dói, os finais de semana dói
Separar é um recomeço e recomeçar dói muito.
É como um salto para o inexistente, o vazio.
Achar o chão da nossa vida individual é complicado e quando o achamos inicia se um novo processo: o de se buscar.
Quem sou eu Antes esposa, mãe, amante, amiga, companheira, doméstica, babá, secretária, protetora E agora Nos sentimos um nada e por incrível que pareça, sentimos muito, e nos perdemos nesse mar de sentimentos confusos.
Aquele diploma na parede de que tanto nos orgulhavamos não tem valor algum, aquele trabalho incrível que passamos anos galgando já não vale nada, aquela viagem para o exterior que passamos noites em claro planejando o roteiro perdeu a graça, aquele sofá caríssimo que ocupa nossa sala de estar é apenas um sofá.
A separação não faz distinção de pessoas, ela dói em todos os corações, desde o barraco até as mansões, ela é fiel e democrática quando o assunto é dividir as dores.
Minha mãe sempre me dizia: Tempo.
E eu enlouquecia pois esse tempo nunca chegava, mas ele chegou.
Eu encontrei o fim dessa queda, sinto que cheguei aqui me arrastando, toda quebrada, mas com um desejo enorme de recomeçar.
Demorei a entender que o fim de um ciclo não é o fim de uma vida, mas precisei desse tempo.
Não adiantavam minhas amigas ficarem me dizendo como eu deveria me portar ou sentir, a dor foi necessária, o sentir foi fundamental para alcançar a linha de chegada ou seria a linha de partida
Realmente, separação é um momento de grande transição.
É onde todos os problemas vem a tona e temos por obrigação olha los de frente e resolve los.
É um momento de refino, onde separamos o pior e o melhor de nós mesmos, é o instante de nos encarar com seriedade e pensar sinceramente se gostamos daquilo que vemos.
Mas já aviso, cuidado!
Depois de tantos atropelos, de tanto choro, de tantas dores, de perguntas sem respostas você não morre, só corre o sério risco de sair dessa situação outra pessoa, mais forte, mais plena, mais corajosa e mais feliz.
Portanto se respeite.
Laisa Bertassoli