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Miguel Esteves Cardoso

Quando se é novo é sempre a somar.
Somam se amigos, emoções, experiências, livros, canudos, lugares, responsabilidades, preocupações e ambições, vícios e prazeres que não viciam.
Até cada ano de vida que se viveu é celebrado como se fosse uma proeza.
É triunfalmente que se chega aos 6, 10, 14, 18 ou 22 anos.
E com razão.
Ainda consigo lembrar me que eram obra.
Depois, não sei a que idade (é aquela em que nos deixamos de importar tanto com as coisas, daí nunca darmos por ela), começamos a compreender a alegria e a liberdade de subtrair coisas e pessoas que só nos pesam, roubando nos tempo, paciência e a calma necessária para sobrevivermos e que se vão tornando, monstruosa e deliciosamente, cada vez maiores.
O tempo de subtrair é cruel e frio e imensamente libertador.
Dá vida aos últimos anos de vida que temos.
Sim, porque a vida acaba.
A morte acontece e, irritantemente, dura para sempre.
Há quem diga que é como o tempo antes de nascermos (até um gênio como Samuel Beckett caiu neste pensamento impreciso) mas não é.
O tempo depois de morrermos é sempre pior do que o tempo antes de nascermos.
Ninguém sobrevive.
Nascemos, vivemos e morremos.
Sobreviver é tão estúpido como anteviver.
A grande diferença entre estar perto da nascença e estar perto da morte é que a proximidade da morte é necessária e suficientemente melhor conselheira.
Antes de morrermos convém nos despirmos até estarmos nus; só com os nossos verdadeiros amores.
Miguel Esteves Cardoso