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Maria Alice Guimarães

ELOÍSA
Que pode ser maior que meu amor por Eloísa
Acredito que o dela por mim.
Ninguém que eu conheça tem, como ela, a capacidade de se desdobrar em amor.
Parece ter vindo de outro lugar, que alguns dizem que existe, e que se chama Planeta Carinho.
Eloísa nasceu numa madrugada fria e chuvosa de julho.
Chegou quietinha sem fazer muito alarde, discreta e meiga, como seria sua vida inteira.
E cresceu livre, com a simplicidade que não se perdeu com o tempo, com o mesmo coração puro, sem vaidades inúteis, sensível e afetiva.
Tornou se mulher.
Mulher exemplo de mãe, de avó, de amiga, de irmã e de filha.
Sua casa é o abrigo de todos.
Sempre tem uma palavra doce, uma conversa amena.
Sabe o verdadeiro significado do que é “ser”.
Nada do que tem é só dela.
Reparte, divide, ajuda e estende sua mão linda e generosa a quem dela necessite.
É, ela tem as mãos mais bonitas que já vi, macias e com dedos longos que terminam com unhas perfeitas.
Por isso tudo é que a coloco aqui, entre estas páginas, muitas delas escritas com lágrimas nos olhos, com o coração apertado pela saudade inevitável do que de bom foi vivido,tanto por mim quanto por ela, onde misturei sentimentos, uns tristes, outros alegres, mas todos vividos de mãos dadas com Eloísa.
Ela nunca me deixou chorar sozinha.
Sempre pegou pra si um pouco das minhas angústias e dos meus desencantos, mesmo que por pura solidariedade na tentativa de amenizar minhas aflições.
Amiga maior, na minha pequena e doce irmã caçula, tão igual a mim, mas tão melhor.
Sei que me ama e me acolhe do jeito que eu sou sem reservas e sem censurar meus atos falhos.
Nem os meus nem os de ninguém.
Com ela tenho todas as garantias.
Sei que possui um lugar especial onde guarda meus segredos e que não deixa ninguém entrar.
Quando Eloísa chegou eu já estava aqui à sua espera.
Acho que Deus mandou a porque sabia que eu precisaria muito dela ou quem sabe meu anjo de guarda não estava dando conta do recado e pediu um reforço.
Maria Alice Guimarães

PODEROSAS
Quem gosta de liberdade tem que aprender a conviver com a solitude.
Ela pode ser uma boa companheira.
Basta experimentar.
Vale a pena.
Diferente da solidão que carrega o estigma de ser triste, de ter cheiro de abandono, a solitude é amena e é uma opção pessoal, coisa de mulher moderna.
De mulher poderosa, como se diz por aí.
De todas as idades, mas principalmente as maduras, que já aprenderam as duras lições da vida, essas moças bonitas, charmosas e atraentes dirigem seu próprio carro comprado com o esforço de seu trabalho, viajam sozinhas, vão da cozinha ao cinema sem medo de ser feliz.
Tudo isto ostentando um belo sorriso emoldurado por uma boca pintada com batom vermelho.
Vestem roupas da moda, primam pela qualidade, abanam cabelos sedosos ao vento deixando atrás de si um rastro de perfume francês.
Pagam suas despesas com cartões de crédito que exibem nas mesas dos bares e restaurantes onde almoçaram, jantaram ou apenas tomaram uma cervejinha gelada.
Sem nenhum constrangimento por exporem ao mundo sua solitude.
Para essas sacerdotisas contemporâneas seu templo é o mundo e nele não há clausuras.
Não lhes falta amigos, familiares e namorados, mas preferem dividir a alegria de viver consigo próprias e com ninguém mais, como uma espécie de desagravo às suas ancestrais amordaçadas.
Nada de egoísmo, apenas usufruir daquela sensação gostosa de”sentir se donas de seu próprio nariz”.
Já foi se o tempo do “eu só vou se você for”.
E olha que não faz tanto tempo assim que mulher nem era cidadã, não votava, não tinha CPF nem carteira de motorista.
Fumar, então, era coisa de mulher dama (como eram chamadas as prostitutas).
Beber, só refrigerante, usar calças compridas um escândalo.
Tudo coisa do passado, graças a Deus.
Hoje já se pode dizer que as mulheres são livres, mesmo que ainda haja quem se preste a discordar.
Concordar ou discordar é de foro íntimo, individual.
O que importa é que a roda da vida girou e faz se necessário viver e fazer se feliz.
Correr riscos faz parte do processo.
Uma geração inteira de mulheres corajosas arriscou sua reputação para que se chegasse até aqui imunes aos falatórios maldosos de poucos anos atrás.
Mulher é fêmea da natureza; livre para voar e buscar o que achar melhor para o seu momento, fazer suas escolhas, trilhar sua estrada.
É preferível colidir com um muro de concreto do que não viver.