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Line Lua

A Dama
Assumo a loucura que me imputam.
Todas elas.
O rótulo dos amigos com bons olhos, o da família, o da sociedade, e o de toda a turma da psiquiatria.
Assumo a loucura, mas não a consciência da loucura, pelo menos não a consciência plena que ultrapassa o diagnóstico e se aprofunda na psiquê.
Assumo a loucura diagnosticada mas não a visão de mim mesmo como tal.
Talvez seja aí que se encontra a gravidade da coisa, ou não.
Queria mesmo era alguma explicação.
Tudo me parece tão louco, tão do avesso em contraste com a minha exclusiva sanidade, que me faz questionar se sou eu, ou o resto do mundo que enlouqueceu.
O pior de tudo é que o fato de passar pela minha cabeça que pode ser eu a louca, já demonstra um mínimo de sanidade mental.
Ou não O que me incomoda é a dúvida, a incerteza.
Assumo a loucura.
Tudo bem! Mas ao assumir a loucura, presumo instantaneamente que esse é um ato de uma pessoa sã.
É nesse ponto que minha cabeça começa a doer e me sinto como a Dama do baralho, dividida em duas.
Cabeça pra cima, cabeça pra baixo, sem saber qual é a real e qual é a imagem refletida.
Isso me parece sintoma de loucura, mas como tive a consciência e a plena capacidade de analisar minha própria loucura, me sinto sã.
Acho que é hora de parar.
Tire suas próprias conclusões se quiser.
Quanto a mim vou tentar ficar bêbada (só por hoje) para ter ao menos um momento de certeza nessa minha existência incerta.
Bêbados são sempre bêbados e nada mais.