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Kevin Martins

Era sexta feira, dia dos namorados.
Após mais uma noite de aula, eu voltava para casa lutando contra o frio e minha próprias pernas, escrevendo em minha mente cheia de papéis amassados.
Acendi meu cigarro, deixei beirando a boca e enfiei minhas mãos no bolso.
De longe eu via um casal, sorridente e andando em zig zag pela calçada.
Felizes pelo que parecia.
Essa data, que é mais um belo truque capitalista, devia ser de todos os com belos sorrisos, sendo felizes.
O casal não era nada extraordinário, nem feios, nem bonitos.
Ela parecia encantada com o que ele falava.
Ele contente em poder compartilhar com ela.
Eles já deviam ter compartilhado suas fotos em redes sociais, com textos, comentários encorajadores
Pensei nos casais que não fizeram isso, talvez por estarem muito ocupados consigo mesmo, talvez por não precisarem compartilhar o momento, talvez por quererem sem diferentes, ou parecer diferentes dos demais.
Andando o mais rápido que podia, passei por eles e ouvi um pouco da conversa.
Ele contava que tinha um presente a entregar, que sua professora o tinha mandado dar a ela.
"Mas eu não conheço ela", a moça falou.
Ele comentou que era um agrado aos que tinham namorada, não era necessário que a conhecesse.
Eu fiquei imaginando que presente seria.
Parecia que eu queria assistir aquela história clichê.
Senti que era hora de chegar rápido ao apartamento para beber algo.
Ficar com as cortinas fechadas e poder jogar tudo isso no papel.
No caminho mais namorados.
Outros ajeitando surpresas para suas namoradas, namorados, enfim Era um clima diferente.
Parecia festivo.
Parecia como acho que deve parecer.
Os bares diziam meu nome.
Resisti.
O cigarro acabou, assim como o amor também finda.
Amar nunca acaba bem.
Se você realmente ama, vai fazer alguém sofrer quando morrer.
Se a pessoa amada morrer, você vai sofrer por isso.
Se vocês nunca se amaram, vai ser doloroso, um sempre se apaixona mais.
Um sempre se apaixona menos.
É natural.
Chego em no apartamento com a vontade de beber, sentar no sofá e me sentir aquecido.
Muitas mulheres já passaram por aqui.
Muitas histórias já passaram por aqui.
Muitas estórias já passaram por aqui.
Muitas vezes eu já passei por aqui.

Mais um dia amanhecendo.
A insônia apareceu aqui.
As ideias e a vontade de viver tudo de uma só vez, também.
Ao mesmo tempo de tudo, não sei se quero os amores.
Não sei qual querer e o que decidir.
As consequências de um desabafo, não me incomodam em nada.
Exatamente nada.
Repassei minha história de vida, na conversa com um amigo.
Percebi que era tão simples quando amar era somente sorrisos.
Verdadeiros sorrisos.
Hoje, amar, é discussões, sofrimento, algema, cadeia E que é difícil se manter sóbrio perante a vida.
Perante ao amor.
Sempre nos falaram que amar é o único sentido da vida.
Ou que tudo vale a pena Ou que temos uns aos outros Não temos nem a nós mesmos, amigo.
Essas briguinhas, das paixões, desgastam toda a corda que poderia sustentar o amor, que vem pesado e cheio de malas.
Um inútil, me sinto assim.
Sem capital.
Esquecendo, muitas vezes, de comer.
Rodeado pelo álcool e pelos cigarros esses que são meus companheiros, já me olham com cara de pena.
Realmente, digno de pena.
Uma mente cheia de papeis amassados.
As lixeiras daqui, já transbordaram.
Ninguém passa para recolher o lixo.
A rua é deserta, e os vizinhos (que não sei se existem) nunca atenderam aos meus pedidos de socorro.
Um homem sem esperanças, não é digno de seu título.
Desculpa, pai e mãe, mas a dor é grande demais aqui.
A angústia de pensar, machuca o peito.
Nos olhos, as lágrimas que nunca caem me dificultam ver a vida.
Me pego num momento em que não sei o que sinto pela vida.
Mas sim o que sinto pela morte.