Serenidade da Alma
Não examinar o que se passa na alma dos outros dificilmente fará o infortúnio de alguém; mas os que não seguem com atenção os movimentos das suas próprias almas são fatalmente desditosos.
( ) Ser semelhante ao promontório contra o qual vêm quebrar as vagas e que permanece firme enquanto, à sua volta, espumeja o furor das ondas.
Que desgraça ter me acontecido isto!
Não, não é assim que se deve falar, mas desta maneira:
Que felicidade, apesar do que me aconteceu, eu não me mortificar, não me deixar abater pelo presente nem me assustar pelo futuro!
Na verdade, coisa idêntica poderia suceder a toda a gente, mas bem poucos a suportariam sem se mortificarem.
Por que razão considerar este acontecimento infortunado e aquele outro feliz
Em resumo, chamas de infortúnio para o ser humano aquilo que não é um obstáculo à sua natureza E consideras um obstáculo à natureza do ser humano aquilo que não vai contra a vontade da sua natureza Que queres, então Conheces bem essa vontade; aquilo que te sucede impede te, por acaso, de ser justo, magnânimo, sóbrio, reflectido, prudente, sincero, modesto, livre, e de possuir as outras virtudes cuja posse assegura à natureza do ser humano a felicidade que lhe é própria Não te esqueças, doravante, contra tudo aquilo que te possa trazer aflição, de recorrer a este princípio: «Acontecer me isso não é uma desgraça; suportá lo corajosamente é uma felicidade.»