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Thaylla Cavalcante

Vocábulos vazios
Alguns dias são piores que outros.
Na maioria das vezes me perco em pensamentos.
Deito me, olho o teto do quarto e espero o tempo passar, se perder.
Alguns dias nada faz sentido, não me lembro de ações anteriores, não meço meus atos posteriores, me perco no relógio.
Alguns dias eu queria apenas algumas horas a menos, dormir e acordar sem compromissos, planejamentos ou regras a seguir.
Em alguns desses dias, o mar é meu refúgio, imagino me prostrada sobre a areia fina, observando o céu, as constelações, dando nome a todas elas, uma por uma.
Em outros desses dias, sinto minha garganta queimar, meus pulsos arderem e meu peito doer, cada vez mais forte, cada vez por mais tempo, e assim o tempo passa.
Algumas vezes uma pintura, uns escritos, são o bastante pra me definir.
Algumas vezes, me encontro em meio a um punhado de lágrimas e soluços ritmados com meu coração.
Algumas vezes, para ser sincera, não vejo em mim muito mais que uma pilha de pincéis, palavras e livros lidos, ao se tirar isso, não sobra muito de mim.
Sou fraca, você me disse uma vez, lembra Eu concordei, mas acho que essa frase nunca fez tanto sentido quanto agora.
Sou fraca com relação a você e ao mundo.
Sou fraca por não conseguir lidar com minhas emoções, principalmente quando se trata de você.
Às vezes dói, às vezes faz mal, e às vezes eu só queria mais um cigarro e uma dose daquele whisky barato que comprei na esquina outro dia.
Cada dose te tirou um pouco de mim, e ao final do litro, nem conseguia dizer o teu nome.
Talvez fosse bom, talvez eu realmente quisesse que você evaporasse junto com cada um daqueles tragos de cigarro dos tantos que dei.
Talvez você já tivesse evaporado, se misturado com o ar, talvez eu só não soubesse.
Algumas horas eu penso em te deixar, em outras dessas eu não vejo muito futuro sem você.
Meu pensamento é como uma bola, e você, um jogador empenhado, daqueles que são realmente bons.
Você chuta uma vez, duas, três, de novo e de novo, enquanto tudo se agita por dentro, enquanto tudo se mistura e nada mais fica estático.
É sempre assim quando te vejo, já percebeu Meus olhos vidram nos teus castanhos vivos, nas tuas órbitas que parecem querer juntar se as constelações que estariam ali, acima do mar.
Você também ama o mar não é Te ouvi dizer isso uma ou duas vezes, não lembro.
Guardei comigo só o que considerei importante, todo o resto foi descartado, junto com tudo que me lembrasse você.
O teu "adeus" me perfurou a carne, como uma furadeira entrando por meus órgãos e me causando hemorragia em cada um deles.
Um sangue imperceptível e coagulante que a ti pouco importava.
"Espere por mim", você dizia em meus sonhos, e neles, você realmente vinha, mas a vida real não funciona assim.
Meu sangue se infectou por todas as manchas negras causadas pela nossa separação, meu corpo desidratou por todas as lágrimas derramadas em teu nome.
E minha cabeça girava, minha boca, seca e meu sorriso, sem vida.
Este e aquela, antes se iluminavam ao te ver, emanavam uma luz quase tão ofuscante quanto tua própria presença.
Se meus sonhos pudessem se tornar realidade, meu peito agora não doeria, minha voz não falharia, minhas pernas não estariam a fraquejar.
Se aquela praia estivesse comigo, meus pulmões teriam o mais puro ar, poderia vislumbrar as estrelas, e te ver acima de mim, em cada uma delas.
Já que não posso, essa tarefa cabe a ti e somente a ti.
Quando vir as estrelas, quando for à praia, lembre se de mim uma vez ou outra.
Lembre que te amei um pouco mais a cada dia, até perder o controle por completo de mim mesma.
Lembre que seu rosto, seu sorriso, seu abraço, são as melhores coisas que eu já experimentei nesse mundo, que tu fostes meu abrigo nos tempos de tempestade, minha calmaria em meio ao nevoeiro, e agora tem minha vida em suas mãos.
Eu, carbono, ei de me decompor logo mais, você, com seu desamor seja feliz pela presença que te invade, vais e não magoe ninguém mais
Thaylla Ferreira {31/07}

Infeliz despedida.
A chuva castiga, o frio maltata.
Mas a solidão me aterriza, me faz manter os pés no chão, independentemente do que vier agora, é disso que preciso.
Meu celular está quase sem bateria, agora não saber teu número decorado bastaria, mas não basta, porque aprendi, assim como a aceitar tudo que vinha de você, aprendi a prever suas palavras, atitudes, seus passos.
Aprendi que você pisca rápido os olhos quando está nervoso, que dá um riso escandaloso quando está sendo sarcástico, que mexe no celular quando quer evitar contato visual, que a tua calma sempre esconde algo, que não deixa ninguém te ver por inteiro, que estraga qualquer iminente preocupação dos outros ao teu respeito e que morre engasgado com tudo que não diz, porque pra você, é sempre melhor mostrar que não se importa.
Mais cômodo, talvez, mas não melhor.
Não pra mim, nem pra você.
Toda essa comodidade juntou se a um contexto amplamente caótico de minha vida, que juntou com tua ausência, com nossas perspectivas abertamente opostas e com tudo que você projetava em mim.
Nós fomos dois covardes por aceitar sem lutar, logo a gente que sempre foi tão de luta
Meu relógio marca 3:00 da manhã.
Dizem que é a hora dos demônios, talvez seja, mas não dos meus.
Regularmente eles passeiam fora de hora por esses tantos caminhos tortuosos.
Daria meu rim por um cigarro agora, ou por qualquer droga que me anestesiasse e me mantivesse bem longe de tudo isso que eu não sei sentir.
Acho que quero beber.
Acho não, eu quero! Se bem que eu nunca consegui paciência! Horas de desespero (complete a frase).
Vou até a conveniência da esquina ver se encontro alguma coisa forte.
Voltei com o whisky mais vagabundo que encontrei.
Menos mal, o efeito vem mais rápido.
A atendente da loja me olhou com pena e eu até entendi.
Não consigo nem dizer qual das duas reações mais me impressionou.
Estou de jeans rasgados, manga longa, Havaianas e na chuva estranho seria se ela me achasse normal.
Acho que sou realmente muito exposta.
Tenho um cigarro entre os lábios, conduzindo o com meus dedos em V.
Que representativo, né O símbolo da paz, a paz que só tenho encontrado nessas circunstâncias.
Enfim, servi a primeira dose, tô analisando o copo a uns 15 minutos e meu estômago já tá se revirando.
Eu odeio beber, sempre odiei, mas é preciso.
Engoli tudo, e desceu queimando além do esperado.
Sinto minha garganta arder pela exposição, mas o efeito foi bom, até consegui te esquecer por uns minutos.
Acho que vou repetir, na verdade, acho que tenho por obrigação repetir isso.
Tomei mais alguns copos, sempre os batendo na mesa, e a cada novo golpe, ele se desgasta, mais e mais.
Acabou rachando, me veio à mente uma analogia bem interessante, algum palpite Uma dica, é bem clichê.
Acertou quem disse que é meu coração.
Mas a culpa é minha.
Bati o copo na mesa e insisti nessa droga de relação.
É compreensível estar nessa situação agora, a culpa é minha por não perceber o óbvio, mas quer saber Que se foda essa compostura infundada.
Um bom jazz está tocando em meu notebook, mas o som agora parece tão distante.
Já nem sei diferenciar o real do imaginário, a linha ficou tênue demais, parece uma corda bamba sobre a qual venho me equilibrando a um certo tempo, e agora eu caí.
A melhor parte foi quem estava lá pra me segurar, isso mesmo, ninguém.
Sinto tua falta, mas sinto falta das viagens de moto com meu pai, sinto falta do meu ex (presidente), sinto falta de muita coisa que nunca mais será minha, senti falta de escrever, e cá estou, bem como senti falta de fumar a um tempo (felizmente isso estava ao meu alcance).
Pra resumir e deixar desse mimimi, é, isso eu também vou superar, a gente vai.
Faço muito drama né Eu sei.
Mas não escrevi nada disso com a intenção de te mandar, então se acontecer, é porque já estou bem bêbada (e qual é, você me conhece.
Sabe que sou fraca com bebida).
De qualquer forma, se acontecer, saiba o quanto você é importante.
Minha mente tá um caos, tô virando uma bomba relógio a ponto de explodir, sua obrigação moral é se afastar.
No mais, és um babaca.
Thaylla Ferreira Cavalcante

Incerta sou
De certeza tenho só a morte
Se vivo estou
Digo te, tenho sorte
Mas vai que desse sonho um dia eu acorde
Devo aproveitar
De Sul a norte
Pois sou sopro de chegada, mas também chama de partida
Sou encontro de alvorada e amanhecer de despedida
Sou um conjunto de filmes preferidos, de livros lidos
Sou tudo que sei, tudo que desejei.
Sou um verme que um dia foi astro e hoje vê se enterrado.
Sou estrela cadente caindo ao chão,
Sou ainda chama luminosa em meio à escuridão.
Vejo me em falsos reflexos estendidos em passagens que não podes ver,
Fui recompensa de méritos ao longo do destino que não pôdes entender.
A ti agora sou miragem,
Perco me na imensidão.
Sou o que teu coração chora por não compreender.
Sou a sorte de um amanhecer tão bonito,
Sou a certeza de um acordar tranquilo
Sou fogo queimando em meio ao nevoeiro
Sou a lágrima correndo em teu travesseiro
Eu sou Pandora de caixa trancada e segredos guardados
Sou de tantos, o ódio resguardado
Se fui amor, hoje sou ausência
E esta tua carência alimenta me cada dia mais
Sei que em minha partida só verei as lamúrias de meus pais e ninguém mais!
Meu legado não inspira
Não sigo a batida
Sou quem sou, não hei de mudar!
E até tu podes ver,
A compreensão é incerta
E apenas na hora certa tu vais saber a quem amar.
Teu erros te consolidarão,
Tuas vestes não mais te esconderão,
E saberás, como eu sei:
De certeza, só tens a morte
Se vivo estás, digo te, tens sorte
Thaylla Ferreira Cavalcante (Relicário de vocábulos vazios.)