Frases.Tube

Demétrio Sena Magé RJ.

A SOLIDÃO DIVINA
Demétrio Sena, Magé RJ.
Se Deus é alguém, ao invés de algo, imagino que seja um ser solitário e deprimido, mesmo com sua soberania.
Creio até que precise de comprimidos para dormir e sonhar que tem amigos; colegas; turma.
Sonhar que também é criatura; não Criador, Dono de tudo, Senhor de servos, o Rei dos reis, inalcançável para relações de contato.
Esse Deus dos pregões humanos deve ser bipolar.
Deve brincar de dois.
Talvez seja o próprio diabo, em um dos pólos, para interagir consigo mesmo como inimigo; alguém a quem valha combater para passar o tempo eterno de sua solidão.
Uma vez chegou a inventar que tinha esposa mortal, filho metade humano, para ter pelo menos uma ideia do que significa ter uma família.
Mas Deus errou no aconchego.
Na distância.
Na medida e no contexto de afeto, presença e proteção.
Superproteção, até, como em toda família existe.
Sua tentativa terminou em tragédia, e com isso Ele achou por bem contornar.
Deu à tragédia o contexto hábil de plano divino, para se salvar pela salvação da humanidade.
Deus continua solitário; afinal, Deus é Deus e não pode ser feliz com seus engenhos carnais.
Criador não tem pai, mãe, cônjuge, filho.
Não tem quem o ame apesar dos defeitos, pois nem defeitos tem.
Só há quem o sirva e louve, não por sentimento, e sim, por gratidão e temor do inferno.
Pelas bênçãos, os privilégios e a esperança em um futuro reino soberbo, milionário, luxuoso e ostentador.
Tudo o que não combina com reino espiritual.

AO PROFESSOR QUE NASCEU PARA SER PROFESSOR
Agradeço todos os dias ao destino, pela graça de ser educador.
Arte educador.
Inserir me nesse contexto como profissão me fez mais do que um profissional: alguém que se reconhece como quem nasceu para isso.
Tenho, evidentemente, minhas angústias relacionadas a proventos, condições ideais de trabalho e as grandes dificuldades externas que acompanham nossos alunos até os espaços formais de aulas, oficinas e projetos educativos, tanto no conceito pedagógico, especificamente, quanto nos conceitos da arte e da cidadania.
Sou um professor que não dá nota.
Que pode mudar, todos os dias, as estratégias para vender suas ideias e seduzir os alunos.
Atraí los para contextos mais prazerosos do que a obrigação de alcançar notas e pontos para passar de ano.
Às vezes, adulá los.
Talvez por isso, eu não tenha nem condições de alcançar a grandeza dos esforços diários dos professores em disciplinas obrigatórias, que têm a dura missão de preparar pessoas para o mercado de trabalho.
Para disputas mercadológicas e a sobrevivência em uma sociedade competitiva e cruel, devido à falta de espaço confortável para conquistas.
Não tenho a mínima condição de avaliar precisamente a realidade total das salas de aula, mas sempre que vejo um professor de pelo menos alguns anos de profissão, admiro o profundamente por ter atravessado esses anos, diante do que vejo.
São muitos e muitos os professores que portam condições plenas de abraçar profissões muito mais rentáveis, e o fariam competentemente, mas não fogem do que escolheram, porque seriam somente profissionais.
E como nasceram para ser professores, não seriam felizes se não fossem profissionais e seres humanos, como tem que ser, mais do que ninguém, quem nasceu para ser professor.
Reitero, portanto, meu profundo respeito e minha admiração aos que trabalham com amor e sofrimento; com revolta e dedicação; com sorrisos muitas vezes salobros, porque se misturam ao pranto, mas logo se sobressaem, porque o amor ao que fazem tem sempre reserva de otimismo.
Ao mesmo tempo, meu desprezo profundo e a não admiração aos patrões da educação tanto particular quanto pública e aos cidadãos de má vontade responsáveis pelo sofrimento, a revolta e as lágrimas do professor que nasceu para ser professor.