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Demétrio Sena Magé RJ.

SHOW DA FÉ
Demétrio Sena, Magé RJ.
A fé que se tem num "Deus", num santo de argila, numa vaca ou numa casca de coco desperta no ser humano a capacidade fantástica de se recompor; se redimir; alcançar graças e às vezes banir doenças.
Deus, o santo, a vaca e a casca não podem nada; o mérito é mesmo da fé ou de quem a possui.
No entanto, quem a possui não pode se conscientizar disso, pois a fé não vive sem esses ícones reais ou imaginários; imateriais ou concretos.
Quem tem fé, tem que tê la em alguém ou algo, pois ela só se constrói sobre uma base; uma planta; um fundamento.
Ter fé não combina com racionalidade à toda prova; com profundo aculturamento e vasta filosofia.
Quanto maior a ingenuidade ou a escassês de conhecimento filosófico, intelectual; quanto menor a bagagem cultural ou a sapiência, maior é a chance de uma pessoa obter o que chamamos milagre.
Se não creio na menagem central da bíblia, creio nas máximas periféricas como as que tratam das bem aventuranças, no que tange os puros e simples de coração.
Eles são bem aventurados, porque têm essa fé que os capacita com a força e a coragem que não vejo nos doutos; nos letrados.
Muito menos nos estudiosos e proclamadores da fé.
Justamente os que se dedicam por vocação e solidariedade ou por interesses escusos; exploração do próximo.
Estes podem suscitar ou promover a fé dos outros, mas não a têm Pelos menos aquela que "remove montanhas", por ser imensa; do tamanho de um grão de mostarda.
Não é na cabeça que a fé habita.
Ela mora no coração, e como foi dito, no coração puro.
Naquele que sabe crer com todas as forças da sua ingenuidade, até mesmo no desempenho dos falsos "representantes do reino dos céus".
Representantes que arrotam como suas, as graças eventualmente alcançadas pelos bem aventurados, por obra e mérito deles próprios Da sua fé Não do simples desempenho de quem apenas realiza shows e arrecada cachês da boa, velha e generosa fé pública.
Tenho saudades de ter fé.
Daquele tempo em que fui sábio, porque não era sabedor.
Hoje lamento, embora veladamente, por não ter tido equilíbrio para não deixar que o saber corroesse a sabedoria.
Que a cabeça embotasse o coração.
Queria pelo menos poder juntar as extremidades, para não ser escravo da crendice nem do ceticismo.
Não ser dominado pela ingenuidade cega dos fiéis a todo o custo nem pela intransigência da erudição que também cega.
No fundo, creio que fugi de um fanatismo para cair em outro, por ser incapaz de achar o meio termo.
Acho que preciso de um "Deus", um santo de argila, uma vaca ou uma casca de coco.

AO PROFESSOR QUE NASCEU PARA SER PROFESSOR
Agradeço todos os dias ao destino, pela graça de ser educador.
Arte educador.
Inserir me nesse contexto como profissão me fez mais do que um profissional: alguém que se reconhece como quem nasceu para isso.
Tenho, evidentemente, minhas angústias relacionadas a proventos, condições ideais de trabalho e as grandes dificuldades externas que acompanham nossos alunos até os espaços formais de aulas, oficinas e projetos educativos, tanto no conceito pedagógico, especificamente, quanto nos conceitos da arte e da cidadania.
Sou um professor que não dá nota.
Que pode mudar, todos os dias, as estratégias para vender suas ideias e seduzir os alunos.
Atraí los para contextos mais prazerosos do que a obrigação de alcançar notas e pontos para passar de ano.
Às vezes, adulá los.
Talvez por isso, eu não tenha nem condições de alcançar a grandeza dos esforços diários dos professores em disciplinas obrigatórias, que têm a dura missão de preparar pessoas para o mercado de trabalho.
Para disputas mercadológicas e a sobrevivência em uma sociedade competitiva e cruel, devido à falta de espaço confortável para conquistas.
Não tenho a mínima condição de avaliar precisamente a realidade total das salas de aula, mas sempre que vejo um professor de pelo menos alguns anos de profissão, admiro o profundamente por ter atravessado esses anos, diante do que vejo.
São muitos e muitos os professores que portam condições plenas de abraçar profissões muito mais rentáveis, e o fariam competentemente, mas não fogem do que escolheram, porque seriam somente profissionais.
E como nasceram para ser professores, não seriam felizes se não fossem profissionais e seres humanos, como tem que ser, mais do que ninguém, quem nasceu para ser professor.
Reitero, portanto, meu profundo respeito e minha admiração aos que trabalham com amor e sofrimento; com revolta e dedicação; com sorrisos muitas vezes salobros, porque se misturam ao pranto, mas logo se sobressaem, porque o amor ao que fazem tem sempre reserva de otimismo.
Ao mesmo tempo, meu desprezo profundo e a não admiração aos patrões da educação tanto particular quanto pública e aos cidadãos de má vontade responsáveis pelo sofrimento, a revolta e as lágrimas do professor que nasceu para ser professor.