"[ ] Casei com o meu amor e o meu amor tornou se a minha mulher, minha em tudo, para tudo, para sempre.
E eu, finalmente, consegui divorciar me de mim e deixar de ser tão triste e aborrecidamente meu, trocando me, no melhor negócio do século, por ela.
Ela ficou minha.
Eu fiquei dela.
[ ] Que alívio.
Nunca mais me quero ver na vida.
A não ser aos olhos dela, onde sou muito bem visto talvez o maior homem que já viveu, logo a seguir ao pai dela, claro.
É um milagre como melhorei tanto.
E paradoxalmente sem deixar de ser eu por causa disso.
Ou mesmo que deixasse, com tal amor não tinha saudades nenhumas.
[ ] Afinal o casamento é a maior ajuda que se pode receber.
Passa se a pertencer.
E, em troca, passa se a possuir.
A pertencer e a possuir mesmo.
Fica se, por troca, sossegadamente apropriado e violentamente proprietário.
[ ] Casar é trocar.
Casar é trocar a liberdade podre, que é a de cada um, pela posse rica, que é a de quem se quer.
E casando se passa a ter, absolutamente, por vontade de quem se dá e de quem recebe.
Casando por amor prescinde se do nosso pior inimigo (nós próprios), entregando o a quem sabe e gosta de aproveitá lo, abusá lo, tirar o maior prazer dele.
E recebe se quem mais queremos, para dela fazermos o que queremos, que é tudo."