O Gondoleiro do Amor
Barcalora
Dama Negra
Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
Do Gondoleiro do amor.
Tua voz é cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento.
E como em noites de Itália
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.
Teu sorriso é uma aurora
Que o horizonte enrubesceu,
Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu;
Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no langor
Vogar, naufragar, perder se
O Gondoleiro do amor!
Teu amor na treva é um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa nas calmarias,
É abrigo no tufão;
Por isso eu te amo, querida,
Quer no prazer, quer na dor Rosa!
Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.