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Fabrício Carpinejar

Até abraçar desaprendemos.
Ninguém mais abraça com vontade.
Com sinceridade de velório.
Odeio abraço falso, como aquele beijo de frígida, no qual a face bate na face e os lábios se transformam em beiço.
Abraço tem que ter pegada, jeito, curva.
Aperto suave, que pode virar colo.
Alento tenso, que pode virar despedida.
É pelo abraço que testo o caráter do outro.
Não confio em quem logo dá tapinhas nas costas.
A rapidez dos toques indica a maldade da criatura.
Não sou porta para bater.
Nem madeira para espantar azar.
Abraço com toquinho é hipócrita.
É abraço de Judas.
De traidor.
O sujeito mal encosta a pele e quer se afastar.
Pede espaço porque não suporta os pecados dos pensamentos.Devemos fechar os olhos no abraço, respirar a roupa do abraçado, descobrir o perfume e a demora no banho.
Abraço não pode ser rápido senão é empurrão.
Requer cruzamento dos braços e uma demora do rosto no linho.
Abraço é para atravessar o nosso corpo.
Ir para a margem oposta.
Nadar para ilha e subir ao topo da pedra pela gratidão de sopro.
Sou adepto a inventar abraços.
Criar abraços.
Inaugurar abraços.
Realizar um dicionário de abraços.
Um idioma de abraços.
O meu é o de cadeira de balanço.
Giro nas pontas dos pés.
Não largo, os primeiros minutos são para sufocar, os demais servem para o enlaçado se recuperar do susto.
Não entendo onde terminará o abraço.
Se a pessoa vai chorar ou vai rir.
Abraço é confissão.
Dez minutinhos de sol e de liberdade.

A vingança encharca a literatura e a música, mas seus mistérios jamais serão esgotados.
Vingança é uma arte, o refinamento da carência.
Quem procura se vingar do ex ou da ex, na verdade, não cansou de brigar.
Não terminou de argumentar.
Vingança é discutir o relacionamento sozinho, é discutir o relacionamento à distância, é dedicar o dia inteiro, às vezes a vida inteira, a arquitetar uma forma de chamar a atenção do amante que negou o ouvido.
O luto é destinado aos que amam amar.
Vinga se a pessoa que odeia amar, odeia continuar amando.
É o encontro do mais extremo ódio com o mais extremo amor.
A união de dois terrorismos.
Vinga se aquele que acredita que deu mais do que recebeu e que se enxerga ludibriado.
Aquele que, durante a relação, cobrava em segredo tudo o que oferecia, listava presentes e gestos.
A vingança é o juízo final do avarento amoroso.
Indica também prepotência.
O vingador se enxerga superior ao vingado, mais experiente e sábio.
Acha que está ensinando seu antigo par.
Encarna a figura de professor repreendendo o erro do aluno.
Assim como não sofre em vão, somente se humilha para humilhar o outro.
Todo sofrimento é arrogante, debitado na conta do desafeto.
O vingador cobiça a última palavra pois não aceita que alguém pense o pior dele.
Planeja castigar as supostas distorções e intimidar as possíveis confissões de sua intimidade.
O vingador vive por hipóteses.
Não entendeu que a última palavra não existe, é uma desculpa para mandar.
A vingança é o mais paradoxal dos atos: um sentimento inteligente em mãos burras e desgovernadas; uma pressa que exige longa paciência e dissimulação.
Requer as mais contraditórias atitudes: sangue frio de alguém com sangue quente; calar se apesar da exagerada vontade de falar.
A vingança fracassa pela ânsia de fama do seu autor.
Quem busca se vingar pretende que o outro saiba que foi ele, que não tenha nenhuma dúvida.
Deseja dar o troco beijando a boca, olhando nos olhos.
Conclui que não adianta nada uma vingança sem remetente.
E peca pela ambição, erra ao se expor, porque a represália aguda e exitosa esconde o criminoso para a perfeição do crime; deve ser anônima, gerando a desconfiança, mas não entregando totalmente o seu mentor.
Não conheço vingança perfeita.
Não se vingar talvez seja a melhor vingança.
Fazer esperar uma resposta que nunca virá.