Incansável
De tanto esperar por aquele velho sorriso, Filipa cansou.
Cansou de ver a vida passar.
Cansou de esperar.
Cansou de sentir tudo sozinha.
Ela já não sentia mais a falta daquele pedaço de alegria, e então, a esperança que restava nela, fez se morta.
O fim antes inalcançável , enfim, se fez presente para ela.
Depois de guardar tudo quanto é lembrança num canto só, Filipa decidiu modificar o seu modo de vida.
Disse pro próprio coração que agora só ia aceitar gostar de quem gostasse dela.
E o coração disse que tinha entendido – embora nem Filipa acreditasse nele.
Ela ainda disse mais.
Disse que cada vez que um amor ia se embora, quem mais se machucava era o coração mesmo, e que ele tinha que parar com essa mania de querer mandar nos outros.
Disse que não ia mais chorar.
Disse que não ia mais escolher não ser amada, que tudo agora ia depender da vida – e do tempo.
E mais uma vez, o coração fez que entendeu.
E mesmo assim, Filipa não acreditou.
No fundo, ela sempre soube que não ia depender da vida nem de tempo, e sim, do – metido coração.
Sabia que seu sermão não ia adiantar de nada o coração nunca obedeceu mesmo.
Ele sempre se achou dono de suas vontades, e não era agora – e nem com um sermão que ele iria mudar.
Resolveu, então, ir aproveitar o tempo que lhe restava até o coração resolver aprontar outra.
Ela já sabia que ele estava pensando em cair num daqueles amores idealizados, e tinha quase certeza de que ele ia se estrepar de novo.
E Aproveitou.
Só que num dia comum, chegou o coração, e aprontou mais uma.