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Luiz Gonzaga de Carvalho Neto

Nós devemos encontrar um equilíbrio entre a satisfação de todas as nossas necessidades e a não satisfação.
A consistência desse equilíbrio é a seguinte: o excesso de privação conduz o ser humano ao desespero; e o excesso de posse o conduz à indolência.
Se nós obtivermos deste mundo tudo o que nós queremos, nos tornaremos ao final espiritualmente indolentes.
Por outro lado, se não possuirmos deste mundo nada do que precisamos, nos tornaremos ao final desesperançados.
Isso quer dizer que o complemento do querer a divindade não é o não querer o mundo, mas o não querer o mundo demasiadamente.
Pois do ponto de vista da divindade o mundo é um de seus aspectos.
O equilíbrio é encontrado quando o ser humano conduz a sua vida de tal modo que ele nunca esteja plenamente satisfeito ou plenamente insatisfeito.
Devemos acostumar a nossa alma com o fato de que as coisas do mundo vêm sempre pela metade.
Quem acha que o mundo deve ofertar tudo o que é desejável, acaba por tornar se idólatra.
Por outro lado, quem acha que o mundo é incapaz de oferecer alguma situação satisfatória, acaba por tornar se ateu.
Quem estabelece uma dicotomia entre o mundo e Deus acaba por acreditar que não existe Deus algum.
O ser humano deve, então, reunir o mundo e Deus em sua alma individual.
A sua individualidade deve conter uma relação com Deus e uma relação com o mundo, e ambas as relações não podem ser contraditórias.
Elas devem se complementar num certo sentido como o sol e a lua se complementam.
O sol é sempre luminoso.
A lua cresce e diminui.
Essa oscilação lunar representa o tipo de relação que o ser humano deve estabelecer com o mundo.
O mundo não irá oferecer luz todo o tempo, mas também não oferecerá trevas todo o tempo.

Para compensar a instabilidade da inteligência exercida sobre o campo das coisas mutáveis e contingentes, Deus põe no céu não somente a Lua, mas também as estrelas.
As estrelas representam aqui uma participação fragmentária do indivíduo na inteligência humana, no entanto indispensável.
As estrelas representam o conjunto das máximas e costumes bem fundamentados de que dispõe uma civilização.
São pequenas luzes que orientam a sua vida cotidiana.
Por exemplo: no ônibus, um sujeito do seu lado deixa cair a carteira e não vê, você pega a carteira e pensa: "Pego o dinheiro ou não ", você não precisa raciocinar muito, só lembrar: "Não roubarás".
Esses pontos de luz servem como orientação para tomarmos decisões nesses momentos; você não precisa se lembrar do por quê é errado roubar, não precisa da ciência toda da moral na sua mente nesse momento pra não pegar a carteira do sujeito, basta lembrar: "Alguém provavelmente mais sábio do que eu disse: Não roubarás".
Isso é um ponto de ligação entre o sujeito e a inteligência humana; naquele momento pode ser o único ponto que se tem; diante da circunstância concreta: "Dalí 2 minutos ele vai sair do ônibus, você também, são 15 segundos pra tomar uma decisão; você está cheio de dívidas, perdeu o emprego, a carteira do sujeito está recheada, parece que ele está muito bem de vida".
O número de contingências pode apagar as razões pelas quais você não deve roubar; você pode lembrar se de toda propaganda comunista que já jogaram na sua cabeça: "Ele devia dividir comigo mesmo, ele é um maldito capitalista e eu um trabalhador explorado".
Tem tanta coisa que pode estar na sua mente naquele momento, que é impossível que você rememore os princípios da moral, e deles derive de fato que você não deve fazer aquilo.
Mas uma máxima que foi assimilada no decorrer dos anos na sua vida é suficiente pra travar a sua ação.
Esse é um mecanismo indispensável de civilização.
A ciência da moral e as razões reais do por quê não se deve roubar nunca estarão presentes na maioria das mentes humanas, a maioria nunca vai estudar teoria moral, mas as pessoas também não podem roubar.
Então é preciso que todas as pessoas tenham um mecanismo para recordar critérios de ação imediatos que possam ser aplicados sem muito esforço da inteligência, que possam ser aplicados mesmo num cenário desfavorável ao uso da inteligência; porque existem muitas situações do cotidiano que são desfavoráveis ao uso da inteligência, são noites de Lua Nova; são quando você está cansado, de mal humor Não dá pra pensar, mas tem de tomar uma decisão.
Está claro que a inteligência vai necessariamente se alternar nesses dois planos e que ela nunca estará somente diante do plano chamado dia, em que as coisas são evidentes, as diferenças são claras, nítidas Em inúmeras vezes a sua mente estará diante desse panorama chamado noite, e nesse panorama você tem de tomar as decisões cruciais para sua vida.

Não houve um momento ou um período na sua vida em que ela dependia exclusivamente de outros seres humanos Em que você não tinha a menor condição de manter sua vida Por exemplo, quando você estava no ventre da sua mãe, você não tinha o menor poder sobre a sua própria vida, e ela tinha o poder total e absoluto.
Por mais ou menos nove meses, ela decidiu não exercer esse poder de forma maldosa.
Depois que você nasceu, você imediatamente arrumou seu primeiro emprego e começou a cuidar da sua vida Você trocou sua primeira fralda e saiu para a rua para procurar seu primeiro emprego Não, alguém cuidou de você durante muitos anos antes de você sequer conseguir pedir por um primeiro emprego, que, aliás, também foi um ato de bondade, porque você teve que pedir – não era seu.
Eu sei que é muito mais interessante e maravilhoso pensar o seguinte: “o mundo é mau, meus pais são uma droga, eles é que estragaram minha vida”, eu sei que é muito mais interessante isso, mas a verdade sobre as coisas é o seguinte: no dia em que você nasceu, eles poderiam ter te jogado fora, e ninguém ia perceber, ninguém ia sentir sua falta.
No entanto, eles não fizeram isso.
Foi um ato de bondade.
Eles estavam fazendo um sacrifício em vista de um benefício que eles não sabiam se iriam receber, que não havia meio de garantir que eles iriam receber.
Esse ato de bondade é tão importante, tem um valor tão alto na existência humana, que todas as religiões do mundo colocam o seguinte: “primeiro, você tem que servir a Deus; em seguida, você tem que respeitar e cuidar dos seus pais” – todas elas.
Os seus pais podem ter sido até canalhas, mas eles não te mataram.

Nós devemos encontrar um equilíbrio entre a satisfação de todas as nossas necessidades e a não satisfação.
A consistência desse equilíbrio é a seguinte: o excesso de privação conduz o ser humano ao desespero; e o excesso de posse o conduz à indolência.
Se nós obtivermos deste mundo tudo o que nós queremos, nos tornaremos ao final espiritualmente indolentes.
Por outro lado, se não possuirmos deste mundo nada do que precisamos, nos tornaremos ao final desesperançados.
Isso quer dizer que o complemento do querer a divindade não é o não querer o mundo, mas o não querer o mundo demasiadamente.
Pois do ponto de vista da divindade o mundo é um de seus aspectos.
O equilíbrio é encontrado quando o ser humano conduz a sua vida de tal modo que ele nunca esteja plenamente satisfeito ou plenamente insatisfeito.
Devemos acostumar a nossa alma com o fato de que as coisas do mundo vêm sempre pela metade.
Quem acha que o mundo deve ofertar tudo o que é desejável, acaba por tornar se idólatra.
Por outro lado, quem acha que o mundo é incapaz de oferecer alguma situação satisfatória, acaba por tornar se ateu.
Quem estabelece uma dicotomia entre o mundo e Deus acaba por acreditar que não existe Deus algum.
O ser humano deve, então, reunir o mundo e Deus em sua alma individual.
A sua individualidade deve conter uma relação com Deus e uma relação com o mundo, e ambas as relações não podem ser contraditórias.
Elas devem se complementar num certo sentido como o sol e a lua se complementam.
O sol é sempre luminoso.
A lua cresce e diminui.
Essa oscilação lunar representa o tipo de relação que o ser humano deve estabelecer com o mundo.
O mundo não irá oferecer luz todo o tempo, mas também não oferecerá trevas todo o tempo.

CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA UMA VIDA FELIZ
A natureza do propósito ao qual uma pessoa está devotada pode conduzi la para a redenção ou destruição.
Pode torná la uma boa pessoa ou uma má pessoa.
As pessoas más são más porque são infelizes.
Mas, é claro, existem graus de maldade ocasionada pela infelicidade.
Há pessoas que devido à infelicidade são autodestrutivas, destróem apenas a si mesmas, o que é, claro, uma forma de mal.
Mas há aquelas que contentam se apenas quando destróem a vida de outras pessoas.
E essas pessoas sentem alívio quando fazem o mal, não felicidade.
Também não faz diferença se elas têm ou não consciência de suas maldades e infelicidades.
O que realmente faz diferença na vida é caminhar na direção da felicidade ou da infelicidade.
Todas as demais suposições são mais ou menos supersticiosas.
A questão é: existem critérios objetivos pelos quais você pode caminhar na direção da felicidade ou da infelicidade.
E você deve usar estes critérios para que as coisas dêem certo: 1) a felicidade na vida depende que os propósitos não sejam imaginários.
Este é o primeiro passo: você deve verificar se o que você está querendo não é uma fantasia da tua cabeça, porque se for, você já começou errado, inaugurando com isso o caminho da infelicidade; 2) você deve escolher um propósito que dependa maximamente da tua atividade.
Nenhum propósito depende exclusivamente de você, todos eles dependem um pouco da intervenção de elementos externos.
Mas se proponha a um que dependa maximamente de você.
Todo o resto, se a pessoa tem ou não consciência de seus erros, não interessa.
A consciência das pessoas não é testemunhada por nós.
Ela só existe para a pessoa e Deus.
Então ela só deve ser considerada por Deus.
O que nós podemos e devemos considerar são os critérios objetivos que nos indicam aquelas vidas conduzidas para a felicidade ou para a infelicidade.