O ator de 54 anos, Domingos Montagner, deixa mulher e três filhos.
Morreu numa tarde de quinta feira, após passar a manhã gravando cenas finais de uma das mais belas e densas novelas da Rede Globo, Velho Chico.
Um mergulho em uma tarde de quinta feira.
Em uma folga, ao lado da companheira de trabalho, Camila Pitanga.
Rápido como o estampido de um estouro.
Segundos de distração nas correntezas de um rio carregado de misticismo e significado.
Um rio onde, dias atrás, cenas da novela se desenrolavam no afogamento e resgaste do seu personagem.
Em um estampido.
Daqueles que causam choque e que não sabemos se é tiro ou se é bomba.
Talvez, em um tempo menor do que o barulho que nos causa a mente.
A vida se esvai.
Escapa das nossas mãos em uma dança melancólica de perplexidade, como declarava os repórteres globais ao anunciar a morte do colega de emissora.
Perplexidade.
A morte e seus significados.
E essa mania de mexer com o coração da gente.
Com o estomago da gente.
Eu, que tanto tenho me irritado ultimamente.
Que tenho estourado por tão pouco.
Que tenho dito tantas coisas desnecessárias a gente que não vale a pena, e deixando de dizer tantas coisas que vale a pena as pessoas necessárias.
Eu, que tenho pedido pro dia ter um pouco mais de tempo pra que eu possa dar conta de tanta coisa.
Que tenho mantido com o café uma relação séria e essencial para manter os meus olhos abertos..
A morte e seus efeitos.
O sentimento de tristeza é obvio.
Um ator, protagonista de uma novela em reta final.
Mas, o choque é por saber o quanto somos e estamos à mercê de morrer.
Amanhã, daqui a uma semana.
Ou agora.
Brincamos de viver, achando que nunca vamos morrer.
E quando acontece um fato desses, engolimos seco.
A morte mostrando quem manda.
E quem se habilita a desafia la agora