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Demétrio Sena Magé RJ.

NÓS, LAÇOS E NÓS
Demétrio Sena, Magé RJ.
Bem sei que tenho minhas variações de humor.
No entanto, são variações de pessoa para pessoa, porque lido com diferentes personalidades ou naturezas humanas.
Se gosto muito de algumas e de outras nem tanto, ou se detesto aquelas e sou indiferente a estas, é natural que revele, a depender da pessoa, um indivíduo diferente.
Que outra pessoa desconhece.
Se neste contexto sou assim, minha natureza muda, individualmente.
Para o mesmo indivíduo, tenho sempre a mesma temperatura; o mesmo grau de humor.
Sorriso ou cara feia; empatia ou apatia; proximidade ou distanciamento; limite ou intimidade.
Sou previsível para quem me conhece.
Alegre ou triste, assoberbado ou vago, preocupado ou não, manterei cumplicidade ou sigilo; serei formal ou desinibido, avexado ou sem pudor como fui ontem, hoje ou no ano retrasado, conforme a relação interpessoal.
De vez em quando me distancio de alguém bem próximo, depois de relutar muito, internamente.
Sei que deixo interrogação, mas isso ocorre quando me sinto na iminência de mudar a natureza da relação: estabelecer novos critérios, diminuir a cumplicidade ou burocratizar os laços.
Transformar quem ponho acima de qualquer cuidado, cerimônia, suspeita ou intenção, numa pessoa impessoal, por suas variações de humor que me deixam inseguro e apreensivo sobre como deverei me comportar no dia seguinte.
Muitas vezes, até na hora seguinte.
A desbotar os laços mais estreitos, os afetos mais íntimos e pessoais, prefiro apagá los totalmente.
Não tenho nenhuma disposição para tanto, nem é de minha natureza operar um processo de abatimento nos valores afetivos, até que sejam negociáveis conforme a conveniência de quem já não pode acompanhar o meu jeito fixo, definido e previsível de ser.

AO PROFESSOR QUE NASCEU PARA SER PROFESSOR
Agradeço todos os dias ao destino, pela graça de ser educador.
Arte educador.
Inserir me nesse contexto como profissão me fez mais do que um profissional: alguém que se reconhece como quem nasceu para isso.
Tenho, evidentemente, minhas angústias relacionadas a proventos, condições ideais de trabalho e as grandes dificuldades externas que acompanham nossos alunos até os espaços formais de aulas, oficinas e projetos educativos, tanto no conceito pedagógico, especificamente, quanto nos conceitos da arte e da cidadania.
Sou um professor que não dá nota.
Que pode mudar, todos os dias, as estratégias para vender suas ideias e seduzir os alunos.
Atraí los para contextos mais prazerosos do que a obrigação de alcançar notas e pontos para passar de ano.
Às vezes, adulá los.
Talvez por isso, eu não tenha nem condições de alcançar a grandeza dos esforços diários dos professores em disciplinas obrigatórias, que têm a dura missão de preparar pessoas para o mercado de trabalho.
Para disputas mercadológicas e a sobrevivência em uma sociedade competitiva e cruel, devido à falta de espaço confortável para conquistas.
Não tenho a mínima condição de avaliar precisamente a realidade total das salas de aula, mas sempre que vejo um professor de pelo menos alguns anos de profissão, admiro o profundamente por ter atravessado esses anos, diante do que vejo.
São muitos e muitos os professores que portam condições plenas de abraçar profissões muito mais rentáveis, e o fariam competentemente, mas não fogem do que escolheram, porque seriam somente profissionais.
E como nasceram para ser professores, não seriam felizes se não fossem profissionais e seres humanos, como tem que ser, mais do que ninguém, quem nasceu para ser professor.
Reitero, portanto, meu profundo respeito e minha admiração aos que trabalham com amor e sofrimento; com revolta e dedicação; com sorrisos muitas vezes salobros, porque se misturam ao pranto, mas logo se sobressaem, porque o amor ao que fazem tem sempre reserva de otimismo.
Ao mesmo tempo, meu desprezo profundo e a não admiração aos patrões da educação tanto particular quanto pública e aos cidadãos de má vontade responsáveis pelo sofrimento, a revolta e as lágrimas do professor que nasceu para ser professor.