Casamento de copo
Sentamos no bar, nos conhecemos
só de relance, apenas algumas olhadas
despercebidas e inocentes.
ao meu lado, em uma pequena cadeira
na qual estava vazia, eu senti seu perfume,
o primeiro cheiro da sua pele na minha boca,
eram nove e meia da noite
ouvi um instrumento de sopro
permear no nosso meio
finas gotas caíam, nem percebi ao certo
olhei para cima e relampeou forte
a cidade estava preta e branca
minha cabeça inclinada, girava em direção as nuvens
e caiu de lado, era ela..mais ninguém.
ali, tão perto, sem falar e gesticular,
pulsou seu corpo dentro do meu
e pude sentir a fusão.
a chuva era uma rival dura
e não deu trégua, porém minha vontade era puxá la
e rodá la, ali mesmo, no rio.
Fomos para dentro do bar, cheiro de barata
e cigarro "Meu Deus, não me tire daqui nunca".
ei de morrer neste local em seus braços,
me decidi
eu quero juntar os fios dos cabelos no travesseiro,
misturá los em cor única
retirá los do pente em cima da cômoda,
penso em filhos,
nas escovas de dentes usurpadas no dia que você foi
dormir na casa da amiga, só de pijama de frio.
não quero jantar sozinho, beber vinho sem brindar
com pequeno toque nas taças de cristais polidas,
vejo grandes brigas, delírios, loucuras
gritos de prazer, de raiva,
e nada é normal
nada na minha vida é normal
muito menos nas nossas será normal,
o amor não é estável
não balança debaixo da árvore
ele é mesclado por toda essência
além da nossa compreensão.
a insanidade grita e me atrevo
impacientemente
desenhei no caderno um coração, lhe mostrei
você nem liga,
de repente
tenho uma ideia
arranco a folha com gana
recorto o coração torto desenhado à mão
você se espanta, arremesso o na lixeira
que está cheia de bolas de papéis escritas e inutilizáveis
estendi a folha
centralizei meu olho no meio e pisquei de leve
você acha engraçado e ri
Pronto! Nos casamos ali mesmo.