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Leon Tolstói

Surpreende me que os pais consintam.
É um casamento de amor, segundo ouço dizer.
De amor exclamou a embaixatriz Onde foi colher essas ideias antediluvianas Quem fala em amor nos nossos dias Que quer, minha senhora disse Vronski Essa velha moda ridícula ainda não acabou de todo.
Tanto pior para os que ainda a usam! Em matéria de casamentos, só conheço uma espécie feliz o casamento de conveniência.
Pode ser, mas, em troca, a felicidade desses casamentos muitas vezes desfaz se em pó justamente porque surge o amor, no qual não acreditavam replicou Vronski.
Perdão, chamo casamento de conveniência a esse em que ambas as partes já pagaram o seu tributo à mocidade.
O amor é como a escarlatina, todos têm de passar por ela.
Então, seria bem melhor que se arranjasse maneira de inoculá lo artificialmente, como se faz com a varíola.
Quando rapariga, apaixonei me por um sacristão declarou a princesa Miagkaia Mas não sei se isto me serviu de alguma utilidade
Fora de brincadeira interrompeu Betsy , sou de opinião que, para conhecermos o amor, temos primeiro que nos enganarmos para depois então corrigirmos o erro.
Mesmo depois de casadas perguntou, rindo, a embaixatriz
Nunca é tarde para nos arrependermos observou o diplomata, citando um provérbio inglês.
Exactamente.
aprovou Betsy Cometer um erro e, depois, repará lo, eis o verdadeiro caminho.
Qual a sua opinião, minha querida perguntou ela a Ana, que ouvia a conversa, calada, um meio sorriso nos lábios.
Eu acho disse Ana, brincando com uma das luvas que se é verdade que cada cabeça cada sentença, há de haver tantas maneiras de amar quantos os corações.
(Anna Karenina)