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Daniel Bovolento Entre todas as coisas

Me liga quando o sorriso não tiver cabendo no rosto e você quiser compartilhar com alguém o riso e os lábios.
Liga pra dizer que tá meio tarde e você não tem onde ficar e pergunta se pode cair lá em casa.
Sempre tem espaço pra você mesmo que não haja espaço pra nós dois no mesmo lugar.
Sempre tem um pouco de mim deixando você chegar pra me provar que a vida é maravilhosa, como você diz.
Me liga, mesmo que seja pra me acordar.
Eu juro que não fico bravo com a tua voz – e não fico mesmo.
Me liga pra ficar em silêncio e cair em prantos soluçantes É que o teu choro é mais gostoso que a chuva caindo lá fora e eu prefiro te ouvir falando dele a passar a noite sozinho.
Me liga mesmo que não for pra me pedir abrigo.
Ou pra brigar comigo por não ter aparecido no seu aniversário.
Eu costumo mandar os presentes por correio porque não ia aguentar ver aquele agradecimento sinceramente amigável brotando do seu rosto.
Liga e eu te apresento um amigo.
Alguém muito melhor que eu enquanto eu morro por dentro de ciúmes de você.
Enquanto eu fico parado, numa mesa de bar, ouvindo os seus mundos colidirem.
O meu mundo se destroça e você nem sabe disso.
Nem sabe que toda a minha angústia é por conta dessa confusão toda que você provoca em mim.
E eu continuo te apresentando a homens melhores, romances menores e sou sempre o último a ficar aqui por você.
Dentro do carro.
Sozinho.
Ouvindo alguma balada numa estação de rádio que poderia ser a nossa se você não preferisse pronomes pessoais de terceira pessoa.
Me liga pra eu me autossabotar mais um pouco e jogar você pra mais alguém que não seja eu.
Porque eu gosto de ser triste – ou porque eu tenho um medo gigante de perder você ao admitir que sem você a casa é fria.
Me liga pra eu escrever alguma coisa.
Num papel de pão mesmo.
Ou num post it da tua geladeira.
Eu passo de manhã e levo geleia de morango e leite desnatado.
Eu já tenho a chave que menos me importa mesmo.
Liga e diz que vai embora.
E que não vê a hora de se despedir.
Me liga, mas não vem com beijo na testa.
Não me interessa.
Eu só queria você aqui.
Vem um dia desses e diz que quer uma revolução na tua vida.
E olha direito – porque eu acho que os seus óculos ficam sempre embaçados quando você tá comigo, e só isso explica o porquê de você não me ver.
Podia ser eu e você nunca vai saber disso.
Pra ti eu sou o porto seguro em cada estação.
Até quando eu for embora.
Sem nem dizer a hora.
Sem nem dizer o porto e sem nem dizer que eu vou me afogar depois de algumas centenas de metros rasos longe de você.
Me liga e pede – de verdade – pra cuidar de você.
Com pressa.
Sem essa de que você tem muito a perder se tirar os pés do chão comigo.
Me liga e me diz que eu sou o amor da tua vida.
Que tu acordou hoje e percebeu que esse tempo todo sou eu ali do lado, mendigando amor e um pouco de atenção.
Liga e diz que encontrou as fitas, os vídeos, os livros e tudo mais que eu te dei porque me lembravam você.
Liga e diz que não tem mais briga, nem lamento, nem história nenhuma com eles que eu tenha que ouvir.
Me liga pra dizer que passa aqui de manhã cedo e que vai me acordar com um beijo pra me espantar da solidão.

TEXTO::
Ao amor da minha vida
De verdade, meu bem, eu não acredito que você exista.
Mas cheguei à conclusão de que, se não for por amor, que seja por você.
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa.
Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você.
E que você saiba que houve um encontro ali.
Que você esteja vestida de vermelho, amarelo, azul, verde, preto e branco.
Que você me ache engraçadinho, pelo menos.
Quem sabe tímido, quem sabe babaca demais, quem sabe charmoso, quem sabe eu nem te chame a atenção.
Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus.
Que eu acerte a cor dos seus olhos numa brincadeira qualquer.
E que aí você perceba o quanto eu te enxergo em tão pouco tempo.
Que você seja amiga de algum amigo, ou a gerente do banco, ou a colega de faculdade, ou a menina bonita da balada, ou filha da amiga da minha mãe.
Que você se encante comigo de alguma maneira.
Que você se permita me conhecer melhor e saber que eu sou legal, ou que sou interessante, ou que não tenho nada a acrescentar a você, ou que eu sou um completo egoísta, ou que eu tenho um blog bacana que fala dessas coisas bonitas que as pessoas acreditam.
Mas que você não seja um ponto final.
Que seja as aspas, as reticências, o parágrafo, o travessão.
Que você seja.
Que você saiba como eu sou complicado, ou que eu sou desajeitado, ou que eu sei dançar muito bem, ou que eu piso no seu pé porque não sei andar em linha reta, ou que eu detesto o cheiro de queijo ralado.
Mas que você decida ficar e me conhecer mais, seja por curiosidade ou porque acha que pode se encontrar no meio da minha bagunça.
Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de tarde, aos cheiros de perfume novo, aos dias de dormir de conchinha, aos minutos de ligações intermináveis.
Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo.
Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente questiona o amor, que você tenha orgulho de me mostrar pras suas amigas e que elas tenham inveja de você.
Que eu possa te trazer café na cama, te dar um beijo de surpresa, te ver sem maquiagem, te morder até você ficar sem graça.
Que eu não seja odiado pelos seus pais, que eles não me chamem de filho, que seu irmão torça pro mesmo time que eu.
Que você me queira como pai dos seus filhos, que você se orgulhe de mim, que você esteja linda quando entrar na igreja.
Que eu possa te fazer sonhar.
Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho.
Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir.
Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro.
Que você chore bastante.
Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria.
Que eu possa garantir que você não vai se machucar.
Que o nosso filho tenha os seus olhos, a sua boca, o seu nariz.
Que ele me lembre todos os dias de você.
Que a gente caia um pouco na rotina e não mude por isso.
Que a gente saia da rotina e se encante com algumas aventuras de vez em quando.
Que a gente saiba reconhecer o valor da companhia do outro.
Que eu te ame como nunca amei ninguém e que você me modifique da maneira que o seu amor quiser.
Mais importante que isso tudo: que você exista.
E que não demore tanto pra chegar na minha vida.

Me liga quando o sorriso não tiver cabendo no rosto e você quiser compartilhar com alguém o riso e os lábios.
Liga pra dizer que tá meio tarde e você não tem onde ficar e pergunta se pode cair lá em casa.
Sempre tem espaço pra você mesmo que não haja espaço pra nós dois no mesmo lugar.
Sempre tem um pouco de mim deixando você chegar pra me provar que a vida é maravilhosa, como você diz.
Me liga, mesmo que seja pra me acordar.
Eu juro que não fico bravo com a tua voz – e não fico mesmo.
Me liga pra ficar em silêncio e cair em prantos soluçantes É que o teu choro é mais gostoso que a chuva caindo lá fora e eu prefiro te ouvir falando dele a passar a noite sozinho.
Me liga mesmo que não for pra me pedir abrigo.
Ou pra brigar comigo por não ter aparecido no seu aniversário.
Eu costumo mandar os presentes por correio porque não ia aguentar ver aquele agradecimento sinceramente amigável brotando do seu rosto.
Liga e eu te apresento um amigo.
Alguém muito melhor que eu enquanto eu morro por dentro de ciúmes de você.
Enquanto eu fico parado, numa mesa de bar, ouvindo os seus mundos colidirem.
O meu mundo se destroça e você nem sabe disso.
Nem sabe que toda a minha angústia é por conta dessa confusão toda que você provoca em mim.
E eu continuo te apresentando a homens melhores, romances menores e sou sempre o último a ficar aqui por você.
Dentro do carro.
Sozinho.
Ouvindo alguma balada numa estação de rádio que poderia ser a nossa se você não preferisse pronomes pessoais de terceira pessoa.
Me liga pra eu me autossabotar mais um pouco e jogar você pra mais alguém que não seja eu.
Porque eu gosto de ser triste – ou porque eu tenho um medo gigante de perder você ao admitir que sem você a casa é fria.
Me liga pra eu escrever alguma coisa.
Num papel de pão mesmo.
Ou num post it da tua geladeira.
Eu passo de manhã e levo geleia de morango e leite desnatado.
Eu já tenho a chave que menos me importa mesmo.
Liga e diz que vai embora.
E que não vê a hora de se despedir.
Me liga, mas não vem com beijo na testa.
Não me interessa.
Eu só queria você aqui.
Vem um dia desses e diz que quer uma revolução na tua vida.
E olha direito – porque eu acho que os seus óculos ficam sempre embaçados quando você tá comigo, e só isso explica o porquê de você não me ver.
Podia ser eu e você nunca vai saber disso.
Pra ti eu sou o porto seguro em cada estação.
Até quando eu for embora.
Sem nem dizer a hora.
Sem nem dizer o porto e sem nem dizer que eu vou me afogar depois de algumas centenas de metros rasos longe de você.
Me liga e pede – de verdade – pra cuidar de você.
Com pressa.
Sem essa de que você tem muito a perder se tirar os pés do chão comigo.
Me liga e me diz que eu sou o amor da tua vida.
Que tu acordou hoje e percebeu que esse tempo todo sou eu ali do lado, mendigando amor e um pouco de atenção.
Liga e diz que encontrou as fitas, os vídeos, os livros e tudo mais que eu te dei porque me lembravam você.
Liga e diz que não tem mais briga, nem lamento, nem história nenhuma com eles que eu tenha que ouvir.
Me liga pra dizer que passa aqui de manhã cedo e que vai me acordar com um beijo pra me espantar da solidão.

É você e vai ser sempre você.
Eu já disse isso em outro desses textos meus e não consigo deixar de pensar em como essa frase martela na minha cabeça.
Já falei sobre independência e sobre como eu não preciso de você pra nada.
Já falei sobre deixar você ir embora e sofrer uma, duas, trinta vezes e mais um pouco toda vez que abrisse a porta e desse de cara com esse seu sorriso de quem ainda tem esperanças de que eu largue esse modo de ser e entenda tudo isso.
É você e vai ser sempre você.
Mesmo que seja teimosia minha e eu te reinvente a cada dois minutos dizendo pra mim mesmo que você não é nada que eu sempre quis e conte pros outros uma versão diferente de nós dois.
Eu te defendo sempre que meus amigos me dizem que é loucura.
Que você me faz mal.
Que você me descompleta.
Como é que eu vou deixar que falem mal de você na minha frente mesmo que eu esteja te odiando com todas as forças que eu nunca sonhei em ter Só eu posso reclamar da nossa descontinuação.
Só eu posso reclamar dessas invenções de vocabulário que a gente sempre faz tentando expressar isso tudo com palavras que não existem.E por onde você anda Ouvi dizer que se sentiu perdida, mas também achou melhor não me ter mais por perto.
Ouvi dizer que conheceu uma bebida de sabor doce e gostou (apesar de sempre ter odiado sabores doces e amores mais doces ainda).
Ouvi dizer que é perda de tempo ficar esse tempo todo pensando sobre como a gente consegue gostar um do outro e cismar em se perder por aí mesmo não tendo problema algum.
Mas a gente se esbarra, eu sei.
Um dia a gente se encontra de novo.
Seja aqui ou em marte, no céu ou no inferno.
Depende da tua religião ou da tua forma de me querer de volta.
Um dia eu te provoco mais um pouco e te estrago só mais um pouquinho de um jeito que só eu sei fazer.
Um dia a gente se põe lado a lado pra reclamar da vida e acender um cigarro barato pelas ruas dessa cidade.
Um dia você esquece o guarda chuva de novo e eu te dou cobertura, abrigo e um pouco de mim de novo.
Um dia desses, quem sabe, a gente não precise se despedir e possa ficar pra sempre nesses nossos joguinhos que só interessam a mim.
Vão nos chamar de loucos e desvairados.
Mas nós somos jovens, meu bem.
É você e vai ser sempre você.
E talvez isso não seja tão ruim assim.

Então me deixa ser claro e te explicar uma coisa: corações partidos são reparados com o tempo, com o acaso, com técnicas que a gente nem sabe se funcionam, mas tenta.
Acho que na verdade eles se curam da tentativa.
Ou nunca curam, a gente que consegue mentir bem pra gente e acredita.
Cê mente bem Mente pra si, mas não tenta mentir pra mim porque eu quero ajudar.
As coisas aí dentro tão meio dilaceradas, tua bússola não funciona mais, não dá mais pra apontar pro norte.
Então vai pro sul.
Vai sentir algo gelado, frio, que peça abrigo e não dê.
Sente um pouco do escuro, chora, vai, chorar faz bem e lava o rosto, deixa tuas marcas nas olheiras e põe pra fora.
Eu acho que a gente não cura, a gente drena.
Drena a tristeza e drena todo o resto até perceber que secou e pronto.
Depois de secar, você volta aqui e me diz que não arde, mesmo que esteja ralado.
Me diz que montou a bússola no sul e que aquilo lá virou um norte.
Isso acontece muito, essa coisa da gente se reinventar, se realinhar, se descobrir do avesso.
E faz bem porque a gente explora o tato no escuro.
A gente explora os sentidos e põe o instinto pra funcionar mais do que o pobre coração.
Dia desses você volta e redescobre esperança no meio da dor.
E me conta que era impossível ter visto antes porque a gente não enxerga bem quando é escuro.
Me diz que não sabe pra onde ir, mas que agora a sensação é diferente: você quer ir.
Talvez queira ir pra um lugar que não parecia claro, exato, bacana ou coisa e tal.
Mas as suas coordenadas mudaram, tua tatuagem é outra, teus modos descobriram um novo jeito depois de drenar a angústia de um coração partido no passado.