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Álvares de Azevedo

Desânimo
Estou agora triste.
Há nesta vida
Páginas torvas que se não apagam,
Nódoas que não se lavam se esquecê las
De todo não é dado a quem padece
Ao menos resta ao sonhador consolo
No imaginar dos sonhos de mancebo!
Oh! voltai uma vez! eu sofro tanto!
Meus sonhos, consolai me! distraí me!
Anjos das ilusões, as asas brancas
As névoas puras, que outro sol matiza.
Abri ante meus olhos que abraseiam
E lágrimas não tem que a dor do peito
Transbordem um momento
E tu, imagem,
Ilusão de mulher, querido sonho,
Na hora derradeira, vem sentar te,
Pensativa e saudosa no meu leito!
O que sofres que dor desconhecida
Inunda de palor teu rosto virgem
Por que tu’alma dobra taciturna,
Como um lírio a um bafo d’infortúnio
Por que tão melancólica suspiras
Ilusão, ideal, a ti meus sonhos,
Como os cantos a Deus se erguem gemendo!
Por ti meu pobre coração palpita
Eu sofro tanto! meus exaustos dias
Não sei por que logo ao nascer manchou os
De negra profecia um Deus irado.
Outros meu fado invejam Que loucura!
Que valem as ridículas vaidades
De uma vida opulenta, os falsos mimos
De gente que não ama Até o gênio
Que Deus lançou me à doentia fronte,
Qual semente perdida num rochedo,
Tudo isso que vale, se padeço!
Nessas horas talvez em mim não pensas:
Pousas sombria a desmaiada face
Na doce mão e pendes te sonhando
No teu mundo ideal de fantasia
Se meu orgulho, que fraqueia agora,
Pudesse crer que ao pobre desditoso
Sagravas uma idéia, uma saudade
Eu seria um instante venturoso!
Mas não ali no baile fascinante,
Na alegria brutal da noite ardente,
No sorriso ebrioso e tresloucado
Daqueles homens que, pra rir um pouco,
Encobrem sob a máscara o semblante,
Tu não pensas em mim.
Na tua idéia
Se minha imagem retratou se um dia
Foi como a estrela peregrina e pálida
Sobre a face de um lago