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Textos Padre Fabio de Melo

Palavras ao Vento
Eu sempre acreditei na vida, desde muito pequeno, que existem pessoas na nossa história que elas são tão fundamentais, mas tão fundamentais que a gente não pode mais dizer um nome sem que a gente lembre do nome dela.
A gente identifica os verdadeiros amigos, as pessoas essenciais na nossa vida no momento da muita alegria ou no momento de muita tristeza: são esses dois extremos que são capazes de revelar quem a gente ama de verdade.
Quando você está alegre demais, aquelas pessoas que você gostaria de tê las ao seu lado vendo as coisas que você está vendo.
Quando você está triste quais são as pessoas que você gostaria que estivessem ali segurando a sua mão Aí você verifica os seus verdadeiros amigos.
Agora, por quê que eles ficaram É um mistério! A gente nunca sabe dizer porque aquela pessoa ficou amiga da gente.
Talvez porque ela tenha tido uma sensibilidade maior que os outros não tiveram, talvez porque elas olharam pra gente de um jeito mais aperfeiçoado, porque tiveram mais paciência com a gente, tiveram mais calma.
Não é assim Os amigos que vão ficar pro resto da vida, a gente pode ter sido enjoado, mas eu sei que na hora que precisar deles eles vão está do meu lado.
Só por isso a gente suporta os defeitos dos outros porque a gente sabe que mesmo que eu esteja na miséria ela vai está ali do meu lado; mesmo que eu perca tudo que eu tenho ( )
Eu achava engraçado porque as novelas mexicanas tem umas frases dramáticas ( ) Tem uma frase de novela mexicana que eu sempre recordo, é uma que falava assim: “Meu filho, aconteça o que acontecer nós nunca vamos deixar de te amar”.
E eu achava engraçado aquilo, mais cheio de significado.
Dramático, né Aconteça Gente o que poderia acontecer de tão sério Sei lá.
De repente, você já não é o ser humano que você gostaria de ser.
Que tenha dado tudo errado.
E eu acho bonito isso, né Não há condição para o amor nessa casa, aconteça o que acontecer.
É aquela velha história: eu briguei com você,eu fiz tudo errado, eu te tratei mal, te destratei eu fui injusto com você, eu te abandonei, mas de repente no meio da noite meu filho morre e você é a primeira pessoa pra quem eu tenho vontade de ligar.
Isso é amor, não há outra chance! Eu não tenho medo que o outro não vá me receber, eu não tenho medo de que o outro vá me tratar mal, do mesmo jeito que o tratei.
Eu não tenho medo de que o outro lado tenha resistência a mim.
Não! O amor que eu sei que ele tem por mim é que me dá coragem de ligar no meio da noite e dizer: “Eu preciso de você agora, mesmo que você não tenha tido a oportunidade de me ter ao seu lado no momento em que você precisava! ” ( ) Isso é ser amigo de verdade, é quando não depende do tempo, de quantas vezes eu liguei pra você, quantas vezes eu fui atrás.
Não, não, o laço que permanece, que independe do tempo.
Que às vezes na correria da nossa vida, às vezes você não tem aquele tempo de cultivar, mas você sabe que ele está lá ( ) Eu tô aqui!
Cada vez que eu me recordo a necessidade de ter alguém ao meu lado eu me lembro dessa frase:” Eu tô aqui! ” Eu não faço estardalhaço, eu não crio muito barulho, eu não tô dando notícia, mas eu estou aqui!!! O tempo vai passar, as coisas vão ficar diferentes, pode ser que eu não tenha oportunidade de está aí, pode ser que eu não tenha oportunidade de chegar a tempo, mas fique sabendo que eu estou aqui! Que bom que essa frase tem o poder de repercutir em quem ama e talvez quem ame nem sabe o quanto isso repercute, porque experimentar da misericórdia pelo lado dos fortes não sei se tem muita vantagem Eu quero ver a gente saber experimentar a misericórdia pelo lado dos fracos, quando você precisa ser amado, quando você precisa ser elogiado, quando você precisa ser aquele que sai do lugar para pedir ajuda.
Aí nessa hora, neste momento você possa ver que as coisas poderão ser resolvidas com aquela presença que você sabe que não muda, que está ali, alguém que lhe assegura está ali ( ) Não sei qual a possibilidade que eu tenho de está na sua vida, não sei de que forma eu possa está na sua vida pode ser que de uma forma concreta, pode ser que você me conheça ( ) eu gostaria de dizer pra você ( ) que eu gostaria de continuar estando aqui e dizer: ”Eu estou aqui ( )! ”

Eu, quando visto pelo outro.
Quem sou eu Eu vivo pra saber.
Interessante descoberta que passa o tempo todo pela experiência de ser e estar no mundo.
Eu sou e me descubro ainda mais no que faço.
Faço e me descubro ainda mais no que sou.
Partes que se complementam.
O interessante é que a matriz de tudo é o "ser".
É nele que a vida brota como fonte original.
O ser confuso, precário, esboço imperfeito de uma perfeição querida, desejada, amada.
Vez em quando, eu me vejo no que os outros dizem e acham sobre mim.
Uma manchete de jornal, um comentário na internet, ou até mesmo um email que chega com o poder de confidenciar impressões.
É interessante.
Tudo é mecanismo de descoberta.
Para afirmar o que sou, mas também para confirmar o que não sou.
Há coisas que leio sobre mim que iluminam ainda mais as minhas opções, sobretudo quando dizem o absolutamente contrário do que sei sobre mim mesmo.
Reduções simplistas, frases apressadas que são próprias dos dias que vivemos.
O mundo e suas complexidades.
As pessoas e suas necessidades de notícias, fatos novos, pessoas que se prestam a ocupar os espaços vazios, metáforas de almas que não buscam transcendências, mas que se aprisionam na imanência tortuosa do cotidiano.
Tudo é vida a nos provocar reações.
Eu reajo.
Fico feliz com o carinho que recebo, vozes ocultas que não publico, e faço das afrontas um ponto de recomeço.
É neste equilíbrio que vou desvelando o que sou e o que ainda devo ser, pela força do aprimoramento.
Eu, visto pelo outro, nem sempre sou eu mesmo.
Ou porque sou projetado melhor do que sou, ou porque projetado pior.
Não quero nenhum dos dois.
Eu sei quem eu sou.
Os outros me imaginam.
Inevitável destino de ser humano, de estabelecer vínculos, cruzar olhares, estender as mãos, encurtar distâncias.
Somos vítimas, mas também vitimamos.
Não estamos fora dos preconceitos do mundo.
Costumamos habitar a indesejada guarita de onde vigiamos a vida.
Protegidos, lançamos nossos olhos curiosos sobre os que se aproximam, sobre os que se destacam, e instintivamente preparamos reações, opiniões.
O desafio é não apontar as armas, mas permitir que a aproximação nos permita uma visão aprimorada.
No aparente inimigo pode estar um amigo em potencial.
Regra simples, mas aprendizado duro.
Mas ninguém nos prometeu que seria fácil.
Quem quiser fazer diferença na história da humanidade terá que ser purificado neste processo.
Sigamos juntos.
Mesmo que não nos conheçamos.
Sigamos, mas sem imaginar muito o que o outro é.
A realidade ainda é base sólida do ser.

Eu não sei se você se recorda do seu primeiro caderno.
Eu me recordo do meu.
Com ele eu aprendi muita coisa.
Foi nele que eu descobri que a experiência dos erros ela é tão importante quanto a experiência dos acertos.
Porque visto de um jeito certo, os erros, eles nos preparam para nossas vitórias e conquistas futuras, porque não há aprendizado na vida que não passe pela experiência dos erros.
Caderno é uma metáfora da vida.
Quando os erros cometidos eram demais, eu me recordo que a nossa professora nos sugeria que a gente virasse a página, era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços, ao virar a página os erros cometidos deixavam de nos incomodar e a partir deles a gente seguia um pouco mais crescido.
O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos.
Erros podem ser fontes de virtudes.
Na vida é a mesma coisa, o erro tem que estar a serviço do aprendizado, ele não tem que ser fonte de culpas, de vergonhas, nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande, sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida.
Uma coisa é a gente se arrepender do que fez, outra coisa é a gente se sentir culpado.
Culpas nos paralisam, arrependimentos não, eles nos lançam pra frente e nos ajudam a corrigir os erros cometidos.
Deus é semelhante ao caderno, ele nos permite os erros para que a gente aprenda a fazer do jeito certo.
Você tem errado muito Não importa, aceite de Deus esta nova página de vida, que tem o nome de "hoje", recorde se das lições do seu primeiro caderno.
Quando os erros são demais, vire a página.

Motivado pela simplicidade, o poeta já dizia que simplicidade é querer uma coisa só, e que solução pra vida é quando temos a coragem de dizer: "eu queria o simplesmente" é ser capaz de reconhecer o único e necessário bem que nós pertencemos, geralmente quem quer muita coisa não quer nada, geralmente quem diz que ama muitas pessoas não ama ninguém, por isso o discurso da simplicidade é um caminho seguro, muitas vezes queremos muitas coisas e no ato de querer o muito acabamos nos desprendendo de nós mesmos, porque querer muito é esquecer quem somos, eu sou a simplicidade, uma estrutura que depende de um único querer, no momento que nos preocupamos daquilo que é único, a vida segue com sabedoria, é o mesmo que querer escrever mil cartas ao mesmo tempo, você não tem condições de transcrever várias cartas, como não é possível percorrer mil quilômetros se a gente não der o primeiro passo, é tão fácil dizer que a vida e complicada demais, a vida não é complicada, a gente que complica no momento em que queremos muito, talvez hoje o pior erro tenha sido querer cuidar de todos e acabou não cuidando de ninguém, porque no momento em que a gente multiplica o nosso querer, a gente perde a capacidade de dividir, e as vezes o que a vida pede de nós é a simplicidade, não tem muito o que fazer, o que buscar, e descobrimos isso no momento em que a morte encosta em nós, alguém está morrendo perto de nós, ou a gente está morrendo
A gente descobre que aquilo que fazíamos antes a gente já não pode mais fazer, não temos mais forças para fazer o que fazíamos antes, quando se é criança chora se de fome, ou de sede, é a vida simples acontecendo, e quando vamos crescendo vamos multiplicando nossas necessidades e deixamos de reconhecer o que é importante agora, e ai precisamos descobrir uma forma sem esbarrar na morte, de todos os dias ser capaz da simplicidade que hoje precisa viver, aprendendo isso hoje pode se corrigir a vida, o que é que vc precisa fazer hoje pra que se possa descobrir o valor de uma vida simples, simplicidade é querer uma coisa só, quando alguém esta morrendo ao nosso lado a gente cancela a agenda da gente, deixa tudo de lado, não há compromisso que não possa ser cancelado, porque o essencial é estar ao lado de quem amamos, que esse aprendizado chegue a nos antes que pessoas precisem morrem pra nos conscientizarmos, sabedoria é estar ao lado, ser simples, e não se perder em muitos quereres.

O peso que a gente leva
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas.
Excedem aos tamanhos permitidos.
Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado
As perguntas são muitas E se eu tiver vontade de ouvir aquela música E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez
Desisto.
Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou.
Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.
É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências.
E nisso mora o encanto da viagem.
Viajar é descobrir o mundo que não temos.
É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.
E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir.
Bom mesmo é poder voltar! ” Ele tinha razão.
A partida nos abre os olhos para o que deixamos.
A distância nos permite mensurar os espaços deixados.
Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo.
Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território.
É conseqüência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.
É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras.
Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver.
Por isso é tão necessário partir.
Sair na direção das realidades que nos ausentam.
Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias Hospitais, asilos, internatos
Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.
Andar na direção do outro é também fazer uma viagem.
Mas não leve muita coisa.
Não tenha medo das ausências que sentirá.
Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu.
Não leve os seus pesos.
Eles não lhe permitirão encontrar o outro.
Viaje leve, leve, bem leve.
Mas se leve.

A história do Rio Amarelo
Recebi um email que me fez pensar
A pessoa me disse: "Padre Fábio, você tinha tudo para dar errado, mas não deu "
Ela disse depois de ter me acompanhado em diversas entrevistas.
Ela foi capaz de reunir as peças do quebra cabeça de minha vida e concluir o que concluiu.
Fiquei pensando no quanto ela tem razão.
A vida nunca foi fácil pra mim.
Nasci no limite e cresci nele.
Nunca tive muitas oportunidades.
Minha vida foi marcada pela pobreza, pelas dificuldades e pelo sofrimento.
Mesmo assim eu insisti que poderia ser diferente.
E o que me levava adiante era a minha teimosia em sonhar sempre.
Talvez seja por isso que hoje, no exercício do meu ministério sacerdotal, eu insista tanto em levar as pessoas ao cultivo dos sonhos.
Sonhos que se abracem à realidade e que se realizem aos poucos, pela força de Deus, manifestada na força dos homens
Vejo muitas pessoas que não estão dando certo
Vejo muitas pessoas se desprenderem de suas verdadeiras essências
Vejo muitas pessoas cultivando verdadeiros e grandiosos jardins de infelicidades.
Pessoas que morrem sem chegarem à terra prometida.
Não gostaria que fosse assim.
Fiquei sabendo que na China há um rio chamado Rio Amarelo que morre antes de chegar ao mar
Fiquei pensando que há pessoas que insistem em fazer o mesmo.
Não permita que sua história seja semelhante à desse rio
Lute para chegar, lute para alcançar
Já dizia o poeta catarinense, Lindolfo Bel: "Menor que meu sonho não posso ser! "
Assim seja
Assim façamos.

PERGUNTAS E RESPOSTAS
Há dois tipos de perguntas.
Uma que precisa ser respondida e outra precisa ser vivida.
Há perguntas práticas e perguntas existenciais.
Perguntas práticas se contextualizam no horizonte da objetividade.
Perguntas existenciais não provocam respostas imediatas.
Viver é uma forma de respondê las.
É maravilhoso conviver com elas
O que torna uma pessoa especial é sua capacidade de viver intensamente por uma causa.
São raras nos dias de hoje.
Vive se muito pela metade ultimamente.
Pessoas que se empenham na realização de seus sonhos não se conformam com a uniformidade.
Assumem o preço de serem diferentes e, geralmente, nadam contra a corrente.
Isso requer coragem.
Coragem de ser, não simplesmente de fazer.
Ser é mais difícil do que fazer, afinal, é no ser que o fazer encontra o seu sustento.
Faço a partir do que sou.
Não, o contrário.
Tenho encontrado muita gente perdida no muito fazer.
Gente que perdeu totalmente o referencial existencial de suas vidas.
Gente que se empenhou e investiu na vida só para um dia poder fazer alguma coisa.
Estudou, lutou, aprofundou, com o desejo de um dia poder desempenhar uma função.
É claro que o fazer também realiza, faz feliz, mas não podemos negar que há uma realidade que precede o mundo da prática.
O significado que sou
No silêncio do coração, há um lugar que não sabe fazer nada.
É lá que nos descobrimos em nosso primeiro significado.
É ele também o nosso lado mais sedutor.
É ele que faz com que as pessoas se apaixonem por nós.
É justamente por isso que ele tem que ser bem descoberto, de maneira que, quando façamos o que quer que seja, tudo o que fizermos tenha as marcas do que somos.
É simples.
Medicina muita gente faz, mas é no exercício da profissão que cada pessoa se mostra em sua intimidade mais profunda.
Aí mora a diferença.
Muitos Fazem a mesma faculdade, mas se encontram de maneira diferente com o conhecimento que recebem.
Realizo tudo a partir de minha particularidade.
Sou único, ainda que imitado por muitos.
Eis a questão
Essas coisas me fazem pensar na beleza e na responsabilidade que essa diferença nos traz.
Ela nos coloca diante da vida como um acontecimento que merece ser sorvido com toda a intensidade do nosso coração.
Agir é um desdobramento do meu ser.
Eu sou, antes de fazer qualquer coisa.
Há em mim uma realidade que me faz significar, mesmo que um dia eu fique totalmente incapacitado de realizar qualquer ação.
Eu sou, mesmo na incapacidade dos movimentos e na impossibilidade dos gestos.
Nem sempre podemos compreender tudo isso, por mais simples que seja.
Vivemos na era da utilidade, onde tudo tem que estar conectado a uma função prática, onde o fazer prevalece sobre o ser.
O que você faz na vida Esta é a pergunta.
O que você é na vida Continua sendo a pergunta.
Mas a primeira é mais fácil responder.
Dizer o que se faz não dá tanto trabalho quanto dizer o que se é.
O que se faz é simples de se dizer e as palavras nos ajudam, mas dizer o que se é, não é tão simples assim, e por vezes, as palavras nem sempre nos socorrem.
Sou muito mais do que posso dizer sobre mim mesmo.
Você também.
Por isso não gostaria que nossa conversa terminasse com uma pergunta pragmática, dessas que se escutam em todas as esquinas que costumamos freqüentar.
Opto por uma pergunta que não espera por resposta imediata, tão pouco pelo desconcerto da fala.
Só lhe peço que honestamente debruce se sobre ela: Quem é você