A Espera de Francisco
E mais uma vez Francisco abria a porta e caminhava, passando por entre os arbustos castigados pelo sol e parava debaixo de um cajueiro.
Mãos calejadas, passos curtos e já cansados.
Todos os dias, no mesmo horário.
O sol se pondo no horizonte.
Parado, fitava a estrada.
Em seu rosto marcado pelo tempo, uma esperança.
E lá ficava.
Sem dizer uma só palavra.
Com a primeira estrela, sentava se em um banco de madeira.
Em sua mente uma lembrança:
Pai! Estou voltando.
Enrolava um cigarro de palha.
Uma brisa suave lhe fazia companhia.
Lembranças Os primeiros passos Os sorrisos, os abraços A primeira namorada
Um aperto no peito, um nó na garganta.
Respirava fundo.
Nos olhos, lágrimas.
Seu único filho
Levanta se e trilhava o caminho de volta a casa.
Acendia o fogo e preparava um café.
Acomodava se em sua cama e adormecia.
Mais um dia se passava.
Mas neste dia, algo novo aconteceu.
Acordou com a voz do filho lhe chamando:
Pai, eu disse que voltaria.
Estou aqui! Que saudades! Me dê um abraço!
Francisco não se continha de tanta felicidade.
Levantou se da cama, abraçou o filho e foram caminhando até a estrada, mas desta vez, não parou debaixo do cajueiro, continuaram a caminhar pela estrada.
Na manhã seguinte, a casa de Francisco permanecia fechada.
Nem um som, nem um movimento, nada.
No final da tarde, ninguém via Francisco sentado em seu banco de madeira olhando para a estrada.
Isto não era comum.
Algo estava errado.
Então os vizinhos foram até a casa de Francisco, chamaram, mas nenhuma resposta.
Forçaram a porta e entraram.
No quarto, deitado na cama, encontraram Francisco, abraçado a foto do filho.
Francisco não mais respirava.
E em seu rosto, agora, um sorriso.