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Rituais de Trance

A arte de ser trance.
Os trancers reconhecem se pelo olhar porque a luz que brilha nos seus olhos é a mesma que brilha nas estrelas, não resistem a mostrar aos outros as constelações dos céus e dançam juntos quando chega a luz da madrugada.
Um trancer olha nos olhos de um desconhecido, fala de amor à primeira vista, de almas gêmeas, defende idéias que parecem ridículas, chora mágoas e decepções antigas, alegra se com novas descobertas, diverte se, brinca, é irreverente, faz perguntas inconvenientes, diz tolices, disfarça se de louco quando sofre de lucidez e dança com seus companheiros.
Já agiu muitas vezes incorretamente, já traiu e mentiu muitas vezes, já trilhou caminhos que não eram os seus e perde se, vezes sem conta, em labirintos até recuperar novamente seu caminho, já disse sim quando queria dizer não, já feriu os que mais ama, já foi a muitas festas e procurou a paz, a esperança e o amor na música, nos lugares, nos espaços, nos outros, nas ** Um trancer cai nestes abismos muitas vezes, mas quando reúne todas as suas forças para sair, descobre que é dentro de si que encontra o amor, a paz, a luz então vive a esperança de ser melhor do que é e dança enquanto caminha.
Senta se num lugar tranquilo da floresta e procura não pensar em nada: descansa, contempla, presta atenção à sua respiração, ao vôo do pássaro, ao aroma da flor e, conectando se com a alma do universo, anda suavemente, sente que participa na dança universal e flutua enquanto dança.
No caminho que livremente escolheu, um trancer sabe também que tem que lidar com gente que não presta atenção às pequenas coisas, que não sabe que tudo é uma coisa só, que cada ação nossa afeta todo o planeta, que cada pensamento nosso se entende muito para além da nossa vida, que cada minuto pode ser uma oportunidade para nos transformarmos, que estamos no mundo não para combater o mal ou condenar e julgar o outro e dança enquanto ama.
Mas porque é um peregrino, um caminhante em busca espiritual, um mendigo do amor, um trancer senta se à roda da fogueira e dá as boas vindas aos estranhos.
Usa a sua intuição e não desespera se quando o acham louco ou a viver num mundo de fantasia.
Não tem certezas, mas sabe que nem todos os caminhos são para todos os caminhantes e ensaia novos compassos de dança.
E segue em frente e faz pontes entre o céu e a terra, entre a vida profana e a espiritualidade a que se aspira, entre o visível e o invisível, entre o compreensível e o indizível e então, pouco a pouco, outros se aproximam, reúnem se e iniciam o seu caminho à volta dos seus ritos, símbolos e mistérios e dançam à roda da fogueira.
Um trancer conhece o silêncio como a linguagem do indizível, do que não se explica, apenas se sente.
Conhece também o poder das palavras e não é tagarela.
Não quer parecer ser, ele simplesmente é.
Não sabe de onde veio nem para onde vai, mas sabe que está cá para amar.
O afeto e o carinho fazem parte da sua natureza tanto quanto respirar e, porque busca o amor, um trancer arrisca mais que os outros.
Arrisca sentir se derrotado e rejeitado no corpo e na alma, a intimidar se com o silêncio ou com a indiferença, a decepcionar se e a magoar se, mas não desiste porque sabe que sem amor, ele simplesmente não é então, mergulha com paixão na vida, olha com doçura e serenidade o mais velho ou a criança, reconhece no seu olhar toda a história da sobrevivência da humanidade e ri e dança com seus companheiros.
Um trancer sabe que é livre para escolher: passa noites de insônia, interroga se pelo sentido da vida, sobre o que é definitivo e o que é passageiro, questiona as aparências, as fórmulas, as opiniões dos outros, se vale a pena tanto esforço é, então, capaz de largar tudo e correr para a aventura porque resiste a viver um papel que os outros escolheram para si.
As suas decisões são sempre tomadas com coragem e loucura, inventando novas coreografias, ao sabor dos ritmos cósmicos, de noite ou de dia, à luz ou as trevas, no inverno ou no verão Dança, dança Muita paz e Luz