Lembro da primeira vez que te vi.
Não me apaixonei de cara, mas senti algo diferente.
Não cogitei o futuro, mas senti que acontecia algo no presente.
Sejamos francos, uma das primeiras coisas que surge é o interesse, a vontade de saber quem é aquela pessoa que chama atenção.
Numa comparação com o dito popular, não é que tenha julgado o livro pela capa, mas foi a capa que me deu o interesse de ler.
E poder desvendar o que de repente surgia em mim.
Recordo nossa primeira conversa.
Se ali pudesse saber o que aconteceria depois, sairia correndo.
Apesar de ser um romântico incurável, também possuo meus mecanismos de defesa.
Não gosto de estar entregue, mas, se me entrego, o faço de corpo e alma.
Não é uma equação tão simples já que dependo das variáveis do lado de lá (o seu, no caso em questão).
É difícil ter coragem de apostar tudo sem medo de sofrer no final.
Costumo dizer, então, que se a gente já soubesse o que aconteceria na nossa história, não haveria graça vivê la.
Entre os passos mal calculados no caminho e alguns cortes que acabaram acontecendo, no final perdurou um amor tão lindo e limpo, tão claro e vivo, tão forte e amigo que o inevitável flashback na minha cabeça me faz sorrir sozinho onde quer que eu esteja.
Você ali, parada, prestando atenção em alguma coisa que não era eu e eu pensando:
– Você tem tudo que eu gosto, falta só gostar de mim.
Demorou até.
Aprendi mais ainda contigo que nada cria raiz da noite pro dia, mas que as mais inesperadas surpresas podem contribuir para os seus alicerces.
O que se constrói beijo a beijo, olhar a olhar, cumplicidade a cumplicidade, é o mesmo que se fortalece na distância, se assegura na saudade e se renova nos reencontros.
Queria eu poder ter uma memória mais privilegiada e lembrar cada acontecimento.
Cada vez que dormi ao seu lado, cada gosto novo que experimentamos juntos, cada sorriso.
Se transformasse nós dois num filme, com certeza seria o meu predileto.
Sem cortes, sem censura, com direito a rotina comum a todos os casais e os dias inesquecíveis exclusivamente nossos.
Tudo.
Lembro da primeira vez que te vi, mas seria impossível dizer quantas vezes mais me demorei em você.
Ainda assim, lembro de tudo que já senti e sinto.
E, então, me pego imaginando como será nossa próxima cena, lembrando da última, e tendo certeza de que te encaro toda vez que fecho os olhos.
Sem close pro fim.
[ Gustavo Lacombe ]