INTERVALO
Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado
Quem te disse tão cedo
Não fui eu, que te não ousei dizê lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia
Seria alguém, seria
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei
Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar te disse
A frase eterna, imerecida e louca
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.