Diário de ViagemO poeta foi visto por um rio,por uma árvore,por uma estrada
DA DISCRETA ALEGRIALonge do mundo vão, goza o feliz minutoQue arrebataste às horas distraídas.Maior prazer não é roubar um frutoMas sim ir saboreá lo às escondidas.
Ah! quanta vez a vida nos revela que "a saudade da amada criatura" é bem melhor do que a presença dela.
A LaranjaA laranja cortada ao meio,Úmida de amor, anseia pela outra É assim, é bem assim que eu te desejo!
Quem disse que eu me mudei Não importa que a tenham demolido:A gente continua morando na velha casa em que nasceu.
Fere de leve a frase E esquece NadaConvém que se repita Só em linguagem amorosa agradaA mesma coisa cem mil vezes dita.
Cada noite que Deus dámeu amor, que esta no céudespetala uma estrelinhapara ver se ainda o quero.
O MATA BORRÃOO mata borrão absorve tudo e no fim da vida acaba confundindo as coisas por que passou O mata borrão parece gente!
Passageiro ClandestinoNo porta mala do meu automóvelLevo um anjo escondido Quando chegamos a um descampado,Ele sai lá de dentro, estende as asas, belas como a vitóriaE aí, então, nos seus ombros, dou uma longa volta pelos céus da cidade
Em cima do meu telhado,Pirulin lulin lulin,Um anjo, todo molhado,Soluça no seu flautim.O relógio vai bater;As molas rangem sem fim.O retrato na paredeFica olhando para mim.E chove sem saber por quê E tudo foi sempre assim! Parece que vou sofrer:Pirulin lulin lulin
Às vezes tudo se ilumina de uma intensa irrealidadeE é como se agora este pobre, este único, este efêmero instante do mundoEstivesse pintado numa tela,Sempre
Nada jamais continua,Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrançaDas outras vezes perdidasAtiro a rosa do sonho nas tuas mãos distraídas.
No retrato que me faço traço a traço Às vezes me pinto nuvemÀs vezes me pinto árvore
Uma curva de caminho, anônima, torna se às vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo!
Só as crianças e os bem velhinhos conhecem a volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e suas esperanças são breves.
