Pensamentos de Clarice Lispector

Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas.

Agora sei: sou só.
Eu e minha liberdade que não sei usar.

É curioso como não sei dizer quem sou.
Quer dizer, sei o bem, mas não posso dizer.

Encontrar se consigo própria era um bem que ela até então não conhecia.
Acho que nunca fui tão contente na vida, pensou.
Não devia nada a ninguém e ninguém lhe devia nada.
Até deu se ao luxo de ter tédio um tédio até muito distinto.

Não sei como se faz outra cara.
Mas é só na cara que sou triste porque por dentro eu sou até alegre.
É tão bom viver, não é

É que só sei ser impossível, não sei mais nada.
Que é que faço para conseguir ser possível

Desejo que você não esmoreça, porque é tão bom estar de "bom jeito".
Acho que devia abandonar minha trajédia em um ato

Sinto me derrotada pela minha própria corruptalidade e vejo que sou intrissecantemente má.

Vagamente pensava de muito longe e sem palavras o seguinte: já que sou, o jeito é ser.

a vida está me doendo, e não sei como falar a realidade é delicada demais, só a realidade é delicada, minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas.

Tudo o que não sei é que constitui a minha verdade.

Eu sei gargalhar com os olhos, e sorrir com o corpo todo.

Não esquecer que a estrutura do átomo não é vista mas sabe se dela.
Sei de muita coisa que não vi.
E vós também.
Não se pode dar uma prova da existência do que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar.
Acreditar chorando.

Só agora sei que eu já tinha tudo, embora do modo contrário: eu me dedicava a cada detalhe do não.
Detalhadamente não sendo, eu me provava que que eu era.

Eu sempre espero uma coisa nova de mim, eu sou um frisson de espera algo está sempre vindo de mim ou fora de mim.