Pensamentos de Clarice Lispector

Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.

Ultrapassar a dor é a pior crueldade.
E eu tenho medo disso, eu que sou extremamente moral.
Mas agora sei que tenho de ter uma coragem muito maior: a de ter uma outra moral, tão isenta que eu mesma não a entenda e que me assuste.
in A Paixão Segundo GH.
pág 155

"E eis que de repente agora
vi que não sou pura"

Estranhei tudo.
E, por me estranhar, vi me por um instante como sou.
Gostei ou não Simplesmente aceitei.

Não se preocupe comigo.
Eu sou muito feliz.

Eu me pefumo para intensificar o que sou.
Por isso não posso usar perfumes que me contrariem.
Perfumar se é uma sabedoria instintiva.
É bom perfumar se em segredo.

Nada te posso garantir eu sou a única prova de mim.

Eu não escrevo o que quero, escrevo o que sou.

"Eu sou uma completa incógnita.
Tal dia quero, tal dia não quero."

Tenho medo de revelar de quanto eu preciso e de como sou pobre.

E doidamente me apodero
dos desvãos de mim,
meus desvarios me sufocam
de tanta beleza.
Eu sou antes,
eu sou quase,
eu sou nunca.

Tudo o que não sou não pode me interessar, há impossibilidade de ser além do que se é.

Não é confortável o que te escrevo.
Não faço confidências.
Antes me metalizo.
E não te sou e me sou confortável.

Sou muito mais lunar que solar.

Por que quero fazer de mim um herói Eu na verdade sou antiheróica.
O que me atormenta é que tudo é "por enquanto", nada é
"sempre".