Pessoas vazias são cheias.
Cheias de descaso, de olhares julgadores e grama do vizinho.
São cheias de seus narizes, de seus mundos próprios, onde ninguém entra, não senhor.
Cheias de verdades, de espelhos generosos, de intolerâncias rabugentas.
Eu demais e o outro de menos.
Pessoas vazias são cheias de amor próprio, tão cheias que não sobra espaço para a acolhida do amor alheio.
Cheias de faços, possos e causos.
Sobra alegoria e falta samba enredo. São autobiográficas, automáticas, autossuficientes, autolimpantes.
Muitos fins e poucos meios.
Muito teto e pouco chão.
Sobra sombra e falta rouge.
Pessoas vazias são cheias de nove horas, de noves fora, de quero agora não demora! Cheias de uma sabedoria que não permite falhas, de repúdio às críticas amigas, de domingos sem companhia, de cobertores imóveis e tapetes ágeis.
São cheias de decibéis e pobres em sussuros, cheias de primeira pessoa, de discursos sem contexto e presenças deslocadas.
Muito senhorio e pouco aluguel.
Cheias de umbigo e carentes de coração.
Sobram dedos apontados e faltam mãos para amparar.
Pessoas vazias são cheias, sim.
Cheias de vazio.